Quem nunca baixou um filme, um CD, um DVD, uma música que seja, que
atire a primeira pedra. Resisti por muito tempo na transição do formato LP para
CD, do VHS para o DVD, por muito tempo enquanto pude. Com o passar do tempo,
muitos títulos não eram mais fabricados e lançados aqui no Brasil. O tempo foi
passando e só se ouvia: só importado, ah isso só em DVD, só em CD importado e
por aí vai. O vinil mesmo foi fabricado pela última vez aqui por volta de 1997.
A era digital chegava com força aqui e acabávamos ficando sem muita opção. Tive
uma das primeiras frustrações quando fiquei sabendo do acústico do Paul
McCartney. Um amigo meu me apresentou o material em fita e disse: Ah, meu irmão
gravou de um amigo dele, isso só tem em CD. O Beatles Live At BBC também; se
quisesse só em CD. Vinil só importado. Anthology então, vinil só o importado e
triplo, só pra patrão. O último do Roberto Carlos a ser lançado em LP foi o
disco do final de ano de 1996. Os sebos começavam a ficarem lotados de LPs, VHS,
compactos... De 1996 até por volta de 2002, era a época de conseguir LPs raros,
originais de época e por preços convidativos. Por outro lado, o digital ganhava
força com os downloads disponíveis. Uma pessoa tinha um CD, ou DVD e jogava em
um servidor para outras pessoas baixarem, ouvirem e decidir se comprava também
o original ou não. Mais ou menos na mesma época, em qualquer boa feira sempre
tinha uma barraca de CD. Caso não fosse possível encontrar CDs nas feiras, os
CDs piratas eram facilmente encontrados nos melhores camelódromos do ramo. Os CDs originais nas lojas eram caros e na
barraquinha era possível comprar uns 3 pelo preço de um da loja. Claro, sem
encarte, sem a parte gráfica. Pouco antes a febre eram as fitas k7 piratas que
tomavam conta do mercado informal de música. Por volta de 2005 ou 2006 conheci
o tão famoso download através do Orkut. Eu queria baixar um cd do Rod Stewart
que eu não tinha, então pedi ajuda em um grupo no Orkut para entender como
fazia para baixar um disco. Eu que sempre fui apaixonado pelos LPs, confesso
que por volta de 2002, 2001 não tinha me animado nada com alguns CDs que era
forçado a comprar como o Let It Be Naked dos Beatles, ou o Acústico do Roberto
Carlos, ou até o Beatles Live At BBC. Aquela letra miúda no encarte, o papel
brilhante que qualquer descuido já ficava as marcas de dedos, a caixinha de
acrílico que facilmente quebrava... Cheguei a pensar: Esse é o futuro de
colecionar música? Na era do download, muitos títulos que jamais tinha saído
oficialmente, era facilmente encontrado nas redes sociais e fóruns
especializados em música. Dos Beatles então uma coleção que me chamou atenção
foi a A/B Road (83 CDs dos ensaios do projeto Let It Be). Do Roberto Carlos,
muitas músicas que só haviam saído em compactos (claro que há muito já estavam
fora de catálogo), os discos em espanhol, os discos em italiano e muitas
músicas extraídas dos especiais de fim de ano. Ainda dos Beatles, para cada
disco lançado oficialmente uma versão “alternate edition” com os takes que não
entraram nos discos oficiais. Do Elvis, muitos e muitos shows gravados para a
RCA e não lançados oficialmente, uma infinidade de outtakes dos discos oficiais
também. E espaço pra armazenar tudo isso? Quem baixou na época e salvou, está
sossegado até os dias de hoje. Quem baixou, ouviu e deletou, provavelmente
nunca achou de novo para baixar. O downloader geralmente baixa mais do que
escuta ou assiste. O download hoje perdeu força, comparado com alguns anos
atrás. Hoje as plataformas digitais estão aí e a pessoa faz um serviço de
assinatura e assiste filmes, programas de TV que perdeu, baixa CDs inteiros...
O digital está tentando matar o analógico faz tempo e parece que está
conseguindo. Muitos amigos meus já falam em cancelar suas TVs a cabo e muitos
já tem suas smartTVs (ok, minha TV ainda é de tubo), onde podem assistir as
coisas on line ou então em um pen drive. Eu fico pensando: qual será o futuro
do colecionismo?
"Eu fico pensando: qual será o futuro do colecionismo?"
ResponderExcluirJá era meu caro. Estamos na época do efêmero, ou das nuvens em que tudo é de todos. O digital conseguiu com tecnologia o que o comunismo nunca consegui com brutalidade e autoritarismos: o compartilhamento total, não importando e que classe social se pertença, ou seja, a verdadeira democracia. Pena que isso se limite ao conhecimento e não ao poder. Entretnato, quem sabe se com esse abastança de conhecimento não venha naturalmente o poder?
Pois é Serge. Segundo um grande amigo meu, a democracia mesmo o "Tá bom pra mim, pra vc então tá bom pra todos" não serve pra nada. O poder talvez até viesse naturalmente, se naturalmente existisse um QI muito forte.
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