Abbey Road
Gravado entre 22 de Fevereiro até 20
de Agosto de 1969.
Abbey Road Studios e
Trident Studios. Alguns relatos no livro “O Diário dos Beatles
de Barry Miles” mencionam algumas sessões de gravação no Olympic Sound Studios, também em
Londres.
Lançamento: 26 de Setembro de 1969.
No final do
ano passado eu me antecipei em falar do Let It Be (porque estava inspirado em
falar dele) sendo que a data mais apropriada para a postagem era a segunda
quinzena desse mês, comemorando sim os 50 anos da gravação do Let It Be. Embora
tenha sido lançado apenas em 1970, foi em janeiro de 1969 que eles entraram em
estúdio pra gravar. Mas a postagem sobre o Let It Be, você pode acompanhar um
pouco mais abaixo ou clicar nesse link http://blogdobaratta.blogspot.com/2018/11/o-interminavel-let-it-be-dos-beatles.html
Antecipando-me
novamente, daqui a pouco alguns veículos começarão a postar algo sobre os 50
anos do disco Abbey Road. Que foi gravado entre Fevereiro e Agosto de 1969. Só
na data já percebemos uma certa urgência por parte dos Beatles em fazer um
disco melhor. As gravações do Let It Be foram de 02 de Janeiro até 15 de
Janeiro no Twickenham Studios e de 22 de Janeiro até 31 de Janeiro no estúdio
da Apple.
1969 foi um
ano bem movimentado para os quatro Beatles. Além da gravação do Let It Be,
compromissos, casamento de Paul e Linda, casamento do Lennon com Yoko, Bed-In
com Lennon e Yoko na cama pela paz, George Harrison tirou as amígdalas, Ringo
filmando “Um Beatle No Paraíso”, intermináveis notícias sobre a venda da
Nothern Songs, Allen Klein entrando na vida dos Beatles com a sutileza de uma
briga de javalis em uma loja de cristais, participações dos Beatles em separado
em discos de outros artistas,Lennon e McCartney colaboram como no início e
sozinhos, sem as participações de Harrison e Starr vão até Abbey Road e gravam
“The Ballad Of John & Yoko”, Lennon
e Yoko sofrem um grave acidente, mesa da EMI que agora era uma mesa de oito
canais e agora era no transistor em vez de válvulas, mas “in the end... “ os
fãs dos Beatles foram presenteados com esse disco que é uma obra prima e um dos
discos mais completo, daqueles que você ouve faixa a faixa e não pula uma.
Muitos falam
que nesse disco que George Harrison se afirma como compositor em “Something” e
“Here Comes The Sun”. Que no Abbey Road, George viria com duas músicas que
estavam pau a pau com Lennon e McCartney. Eu fico puto com isso, pois é uma
baita injustiça com George que tanto contribuiu e abrilhantou o som dos Beatles
desde os tempos de Hamburgo. Para quem toca guitarra ou violão eu sugiro que
tente tocar igual George Harrison, ou tente pensar como ele musicalmente
falando, indo além (aí eu falaria especialmente aos compositores), “você seria
capaz de compor uma Don´t Bother Me?” com todas suas passagens e arranjos?
George é muito subestimado e eu particularmente acho isso uma grande injustiça.
“Something” é uma das canções mais regravadas de todos os tempos, uma das mais
belas linhas melódicas de todos os tempos com George fechando não apenas a
discografia dos Beatles, mas uma era, pois eu fico pensando o que as outras
bandas e artistas contemporâneos pensavam em gravar depois de ouvir Abbey Road.
Para fazer
esse texto sobre esse disco que eu tanto adoro, recorri a um livro que li,
embora não tenha gostado em muitos momentos, do Geoff Emerick “Here, There And
Everywhere – Minha Vida Gravando Os Beatles” pois em muitos momentos ele desce
a lenha no George sem dó. Mas ele traz a conhecimento muitas informações
interessantes na parte de engenharia de som, gravação, edição, mixagem, corte,
mesa de som, etc. Uma parte que me chamou atenção foi a do Making of do Abbey
Road. Em especial ao clima entre os Beatles pelo menos no início das gravações.
Volto a lembrar de que em 1969 os Beatles tinham gravado o Let it Be, que a
coisa chegou em um ponto em que brigavam demais e isso (fatidicamente acabou
indo para as telas de cinema um ano depois), George saiu do grupo, mas
felizmente retornou e terminaram o projeto que ficou engavetado até o ano
seguinte. Segundo Geoff Emerick em seu livro:
“Mas em
contraste com o caos que foi o Álbum Branco, a atmosfera durante a criação do
álbum Abbey Road foi bastante amena. Todos pareciam estar pisando em ovos,
tentando não ofender ninguém. Durante a maior parte do tempo, Paul estava menos
intrometido e John menos cáustico. Yoko ainda estava lá todos os dias, mas a
essa altura os Beatles estavam tão acostumados com sua presença que era como se
ela fosse uma peça da mobília... na maior parte do tempo, Ringo era Ringo,
apesar de parecer ter um pouco mais de atitude de “eu sou uma estrela”. Talvez
a maior mudança estivesse em George Harrison, que se encontrava mais seguro e
autoconfiante do que nunca. “ trecho transcrito do livro “Here, There And
Everywhere – Minha Vida Gravando Os Beatles” de Geoff Emerick e Howard Massey
pela editora Novo Século edição 2013.
O disco abre
com “Come Together” que é um rock pesado de John. Uma forte presença de
guitarras, baixo e bateria, tudo minuciosamente equalizado. Para quem ouviu
milhões de vezes todos os discos dos Beatles, ao ouvir o Abbey Road pela
primeira vez, constata que o som ali está diferente. Não só pela mudança da mesa
valvulada de quatro canais para a transistorizada de oito canais. Apesar que
consta no livro de Geoff Emerick que George Harrison sentiiu “menos corpo” no
som de sua guitarra, e Ringo também sentiu diferença na equalização da bateria.
O som do baixo tá com um puta som poderoso. Pela página “The Beatles Recording”
(de uma rede social aí) as fotos das sessões de gravação de Abbey Road revelam
um Paul McCartney usando o baixo Rickenbacker. Após a pedrada de “Come Together”,
surge “Something”. A música dos Beatles mais regravada, depois de Yesterday.
Elvis cantou no Aloha From Hawaii, Frank Sinatra sempre considerou a melhor
canção da dupla Lennon e McCartney. Se tiver tempo, procure no you tube um take
só com a orquestra.
Certa vez
ouvi que o Abbey tinha sido elaborado em um lado para agradar o John e outro
para agradar a Paul. Se foi assim, Lennon se deu mal, pois, no lado mais (John)
do disco foi incluída a “Maxwell´s Silver Hammer” que John a chamava de “mais
uma música da vovó” composta por Paul. Este queria que seu baixo soasse como
uma tuba. Mal Evans que se lascou coitado pra levar a bigorna pra dentro do
estúdio. Octopus´s Garden, meio na linha de “Yellow Submarine”, mas é de
autoria de Ringo. A segunda, depois de “Don´t Pass Me By” do Álbum Branco. No
filme Let It Be é possível ver Ringo no piano e George Harrison com o violão
revendo os acordes de “Octopus´s Garden”. “I Want You (She´s So Heavy)” foi a
primeira a ser gravada ainda no Trident Studios por volta de fevereiro. Mas foi
terminada meses depois no Abbey Road. Há quem diga que é um rock progressivo,
pela mudança de ritmo e construção da música no geral. A letra é simples? Há
quem diga também. Mas não podemos nos esquecer que Lennon é direto. O crescente
da música no final faz você viajar para outra dimensão.
Lado 2 abre
com a “Here Comes The Sun”. Eric Clapton diz que George simplesmente pegou o
violão em seu jardim e começou a cantar os primeiros versos. Eric Clapton viu
com os próprios olhos essa canção tomando vida. Falou isso com muita emoção
inclusive. Aí entra “Because”. Certa noite Yoko tocava “Sonata Ao Luar” de
Beethoven e John pediu para Yoko tocá-la ao contrário. Li em algum lugar que
George Martin dobrou as vozes de John, Paul e George completando assim uma
harmonia em nove partes. Ouvir “Because” eu considero como um revival dos
primeiros discos dos Beatles, em que eles exploravam mais as harmonias vocais
entre eles. “You Never Give Me Your Money” é um reflexo do que eles vinham
passando por causa de dinheiro, a disputa (Klein/Eastman) para decidir quem
iria ser o empresário dos Beatles apesar que naquela altura do campeonato todos
os Beatles estavam meio fartos de serem os Beatles, “Sun King” nasceu depois de
John Lennon ler a biografia do Rei-Sol (Sun King) Luis XIV da França que reinou
de 1643 até 1715. Para muitos o medley começa a partir de “Mean Mr. Mustard”,
para mim começa em “Sun King”, mas até aí, cada pessoa tem um jeito de
“entender” o Abbey Road. “Mean Mr. Mustard”, “Polithene Pam”, “She Came In Through
The Bathroom Window”, “Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End” são
fragmentos de canções que juntas formam o medley mais importante da história da
música mundial de todos os tempos. Impossível ouvi-las em separado. No vinil
elas estão ligadas entre si. Quem baixou o mp3, constata que no medley tem um
intervalo entre uma música e outra, apenas quem tem o CD original ou cópia do
original consegue ouvir as músicas sem intervalo. O mesmo
acontece no ”Sgt. Pepper´s” da “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band” para a
“With A Little Help From My Friends”.
A lendária
capa
Abbey Road é
o nome da rua onde fica o estúdio onde eles gravaram desde 1962. Fica em
Londres, Inglaterra. Certa vez vi uma reportagem de algum telejornal em que a
cultura por lá é que se algum pedestre colocar o pé pra fora da calçada (onde
obviamente exista uma faixa de pedestres) o carro para e a pessoa atravessa.
Claaaaaro que é igual no Brasil, aham. Mas enfim. A capa já te dá uma lição que
para atravessar a rua, que seja feito na faixa de pedestres. O nome mais cotado
para o disco era Everest, por causa da marca de cigarro que o engenheiro
Geoff Emerick fumava. A ideia ficou na
cabeça deles e Paul ficou todo animado para viajar para o Everest, mas como o
prazo para entregar o disco já estava muito em cima que decidiram atravessar a
rua e chamar o disco de Abbey Road. Nada relacionado ao amor da banda pelo
estúdio, segundo informações de funcionários por muitos anos. Geoff Emerick
alega em seu livro que eles odiavam o lugar.
A capa é
cheia de referências à tal morte de Paul McCartney em 1966. Segundo os
“especialistas” em provas da morte de Paul, os Beatles na capa do Abbey Road
estão vestidos como se fossem participantes de um enterro. Paul está com o
cigarro na mão direita, sendo que ele é canhoto e está descalço (motivo porque
no dia estava muito calor) e os especialistas associaram isso ao costume de
enterrar os mortos descalços. Mas outras fotos da sessão de fotos da capa Paul
está de sandálias. A placa do fusca é LMW (Linda McCartney Widow ou Linda McCartney
viúva) embaixo o número 28 IF, 28 seria a idade de Paul se/IF estivesse vivo.
A menos que
você não goste de Beatles, não tem como não gostar desse disco. O impacto é
mais violento no vinil, não importa qual toca discos você tenha, conhecer (se que
existe alguém que não conhece esse disco) Abbey Road no vinil é uma experiência
única. O CD não empolga do mesmo jeito, a começar pela capa.
Com as
bênçãos da tecnologia de hoje em dia, é possível imaginar como teriam sido as
gravações desse disco. O game Rock Band dos Beatles tem o álbum Abbey Road, com
clipes que te levam para o estúdio, é possível ver a escada pra sala técnica no
canto esquerdo, tudo igual. Mas, hoje sabemos que não foi bem assim,
principalmente na época em que eles já não eram tão chegados assim uns dos
outros. Uma estrofe no livro do Geoff sobre o medley na página 374 está
escrito: “Apesar de todo o tumulto, aquelas eram faixas divertidas de se
gravar, e no conjunto ficou excelente. Sentado na sala de controle o Studio
Two, comentei com George Martn que o som parecia dos velhos Beatles, com os
quatro tocando juntos como a banda de 1963. “Você está certo”, disse George
sarcasticamente. “Não dá nem para perceber que um não suporta o outro”.
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