sábado, 19 de janeiro de 2019

50 anos do Abbey Road



Abbey Road
Gravado entre 22 de Fevereiro até 20 de Agosto de 1969.
Abbey Road Studios e Trident Studios. Alguns relatos no livro “O Diário dos                                Beatles de Barry Miles” mencionam algumas sessões de gravação no Olympic                         Sound Studios, também em Londres.
Lançamento: 26 de Setembro de 1969.
                     

No final do ano passado eu me antecipei em falar do Let It Be (porque estava inspirado em falar dele) sendo que a data mais apropriada para a postagem era a segunda quinzena desse mês, comemorando sim os 50 anos da gravação do Let It Be. Embora tenha sido lançado apenas em 1970, foi em janeiro de 1969 que eles entraram em estúdio pra gravar. Mas a postagem sobre o Let It Be, você pode acompanhar um pouco mais abaixo ou clicar nesse link http://blogdobaratta.blogspot.com/2018/11/o-interminavel-let-it-be-dos-beatles.html

Antecipando-me novamente, daqui a pouco alguns veículos começarão a postar algo sobre os 50 anos do disco Abbey Road. Que foi gravado entre Fevereiro e Agosto de 1969. Só na data já percebemos uma certa urgência por parte dos Beatles em fazer um disco melhor. As gravações do Let It Be foram de 02 de Janeiro até 15 de Janeiro no Twickenham Studios e de 22 de Janeiro até 31 de Janeiro no estúdio da Apple.

1969 foi um ano bem movimentado para os quatro Beatles. Além da gravação do Let It Be, compromissos, casamento de Paul e Linda, casamento do Lennon com Yoko, Bed-In com Lennon e Yoko na cama pela paz, George Harrison tirou as amígdalas, Ringo filmando “Um Beatle No Paraíso”, intermináveis notícias sobre a venda da Nothern Songs, Allen Klein entrando na vida dos Beatles com a sutileza de uma briga de javalis em uma loja de cristais, participações dos Beatles em separado em discos de outros artistas,Lennon e McCartney colaboram como no início e sozinhos, sem as participações de Harrison e Starr vão até Abbey Road e gravam “The Ballad Of John & Yoko”,  Lennon e Yoko sofrem um grave acidente, mesa da EMI que agora era uma mesa de oito canais e agora era no transistor em vez de válvulas, mas “in the end... “ os fãs dos Beatles foram presenteados com esse disco que é uma obra prima e um dos discos mais completo, daqueles que você ouve faixa a faixa e não pula uma.

Muitos falam que nesse disco que George Harrison se afirma como compositor em “Something” e “Here Comes The Sun”. Que no Abbey Road, George viria com duas músicas que estavam pau a pau com Lennon e McCartney. Eu fico puto com isso, pois é uma baita injustiça com George que tanto contribuiu e abrilhantou o som dos Beatles desde os tempos de Hamburgo. Para quem toca guitarra ou violão eu sugiro que tente tocar igual George Harrison, ou tente pensar como ele musicalmente falando, indo além (aí eu falaria especialmente aos compositores), “você seria capaz de compor uma Don´t Bother Me?” com todas suas passagens e arranjos? George é muito subestimado e eu particularmente acho isso uma grande injustiça. “Something” é uma das canções mais regravadas de todos os tempos, uma das mais belas linhas melódicas de todos os tempos com George fechando não apenas a discografia dos Beatles, mas uma era, pois eu fico pensando o que as outras bandas e artistas contemporâneos pensavam em gravar depois de ouvir Abbey Road.

Para fazer esse texto sobre esse disco que eu tanto adoro, recorri a um livro que li, embora não tenha gostado em muitos momentos, do Geoff Emerick “Here, There And Everywhere – Minha Vida Gravando Os Beatles” pois em muitos momentos ele desce a lenha no George sem dó. Mas ele traz a conhecimento muitas informações interessantes na parte de engenharia de som, gravação, edição, mixagem, corte, mesa de som, etc. Uma parte que me chamou atenção foi a do Making of do Abbey Road. Em especial ao clima entre os Beatles pelo menos no início das gravações. Volto a lembrar de que em 1969 os Beatles tinham gravado o Let it Be, que a coisa chegou em um ponto em que brigavam demais e isso (fatidicamente acabou indo para as telas de cinema um ano depois), George saiu do grupo, mas felizmente retornou e terminaram o projeto que ficou engavetado até o ano seguinte. Segundo Geoff Emerick em seu livro:
“Mas em contraste com o caos que foi o Álbum Branco, a atmosfera durante a criação do álbum Abbey Road foi bastante amena. Todos pareciam estar pisando em ovos, tentando não ofender ninguém. Durante a maior parte do tempo, Paul estava menos intrometido e John menos cáustico. Yoko ainda estava lá todos os dias, mas a essa altura os Beatles estavam tão acostumados com sua presença que era como se ela fosse uma peça da mobília... na maior parte do tempo, Ringo era Ringo, apesar de parecer ter um pouco mais de atitude de “eu sou uma estrela”. Talvez a maior mudança estivesse em George Harrison, que se encontrava mais seguro e autoconfiante do que nunca. “ trecho transcrito do livro “Here, There And Everywhere – Minha Vida Gravando Os Beatles” de Geoff Emerick e Howard Massey pela editora Novo Século edição 2013.

O disco abre com “Come Together” que é um rock pesado de John. Uma forte presença de guitarras, baixo e bateria, tudo minuciosamente equalizado. Para quem ouviu milhões de vezes todos os discos dos Beatles, ao ouvir o Abbey Road pela primeira vez, constata que o som ali está diferente. Não só pela mudança da mesa valvulada de quatro canais para a transistorizada de oito canais. Apesar que consta no livro de Geoff Emerick que George Harrison sentiiu “menos corpo” no som de sua guitarra, e Ringo também sentiu diferença na equalização da bateria. O som do baixo tá com um puta som poderoso. Pela página “The Beatles Recording” (de uma rede social aí) as fotos das sessões de gravação de Abbey Road revelam um Paul McCartney usando o baixo Rickenbacker. Após a pedrada de “Come Together”, surge “Something”. A música dos Beatles mais regravada, depois de Yesterday. Elvis cantou no Aloha From Hawaii, Frank Sinatra sempre considerou a melhor canção da dupla Lennon e McCartney. Se tiver tempo, procure no you tube um take só com a orquestra.







Certa vez ouvi que o Abbey tinha sido elaborado em um lado para agradar o John e outro para agradar a Paul. Se foi assim, Lennon se deu mal, pois, no lado mais (John) do disco foi incluída a “Maxwell´s Silver Hammer” que John a chamava de “mais uma música da vovó” composta por Paul. Este queria que seu baixo soasse como uma tuba. Mal Evans que se lascou coitado pra levar a bigorna pra dentro do estúdio. Octopus´s Garden, meio na linha de “Yellow Submarine”, mas é de autoria de Ringo. A segunda, depois de “Don´t Pass Me By” do Álbum Branco. No filme Let It Be é possível ver Ringo no piano e George Harrison com o violão revendo os acordes de “Octopus´s Garden”. “I Want You (She´s So Heavy)” foi a primeira a ser gravada ainda no Trident Studios por volta de fevereiro. Mas foi terminada meses depois no Abbey Road. Há quem diga que é um rock progressivo, pela mudança de ritmo e construção da música no geral. A letra é simples? Há quem diga também. Mas não podemos nos esquecer que Lennon é direto. O crescente da música no final faz você viajar para outra dimensão.














Lado 2 abre com a “Here Comes The Sun”. Eric Clapton diz que George simplesmente pegou o violão em seu jardim e começou a cantar os primeiros versos. Eric Clapton viu com os próprios olhos essa canção tomando vida. Falou isso com muita emoção inclusive. Aí entra “Because”. Certa noite Yoko tocava “Sonata Ao Luar” de Beethoven e John pediu para Yoko tocá-la ao contrário. Li em algum lugar que George Martin dobrou as vozes de John, Paul e George completando assim uma harmonia em nove partes. Ouvir “Because” eu considero como um revival dos primeiros discos dos Beatles, em que eles exploravam mais as harmonias vocais entre eles. “You Never Give Me Your Money” é um reflexo do que eles vinham passando por causa de dinheiro, a disputa (Klein/Eastman) para decidir quem iria ser o empresário dos Beatles apesar que naquela altura do campeonato todos os Beatles estavam meio fartos de serem os Beatles, “Sun King” nasceu depois de John Lennon ler a biografia do Rei-Sol (Sun King) Luis XIV da França que reinou de 1643 até 1715. Para muitos o medley começa a partir de “Mean Mr. Mustard”, para mim começa em “Sun King”, mas até aí, cada pessoa tem um jeito de “entender” o Abbey Road. “Mean Mr. Mustard”, “Polithene Pam”, “She Came In Through The Bathroom Window”, “Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End” são fragmentos de canções que juntas formam o medley mais importante da história da música mundial de todos os tempos. Impossível ouvi-las em separado. No vinil elas estão ligadas entre si. Quem baixou o mp3, constata que no medley tem um intervalo entre uma música e outra, apenas quem tem o CD original ou cópia do original consegue ouvir as músicas sem intervalo. O mesmo acontece no ”Sgt. Pepper´s” da “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band” para a “With A Little Help From My Friends”.

A lendária capa
Abbey Road é o nome da rua onde fica o estúdio onde eles gravaram desde 1962. Fica em Londres, Inglaterra. Certa vez vi uma reportagem de algum telejornal em que a cultura por lá é que se algum pedestre colocar o pé pra fora da calçada (onde obviamente exista uma faixa de pedestres) o carro para e a pessoa atravessa. Claaaaaro que é igual no Brasil, aham. Mas enfim. A capa já te dá uma lição que para atravessar a rua, que seja feito na faixa de pedestres. O nome mais cotado para o disco era Everest, por causa da marca de cigarro que o engenheiro Geoff  Emerick fumava. A ideia ficou na cabeça deles e Paul ficou todo animado para viajar para o Everest, mas como o prazo para entregar o disco já estava muito em cima que decidiram atravessar a rua e chamar o disco de Abbey Road. Nada relacionado ao amor da banda pelo estúdio, segundo informações de funcionários por muitos anos. Geoff Emerick alega em seu livro que eles odiavam o lugar.
A capa é cheia de referências à tal morte de Paul McCartney em 1966. Segundo os “especialistas” em provas da morte de Paul, os Beatles na capa do Abbey Road estão vestidos como se fossem participantes de um enterro. Paul está com o cigarro na mão direita, sendo que ele é canhoto e está descalço (motivo porque no dia estava muito calor) e os especialistas associaram isso ao costume de enterrar os mortos descalços. Mas outras fotos da sessão de fotos da capa Paul está de sandálias. A placa do fusca é LMW (Linda McCartney Widow ou Linda McCartney viúva) embaixo o número 28 IF, 28 seria a idade de Paul se/IF estivesse vivo.
A menos que você não goste de Beatles, não tem como não gostar desse disco. O impacto é mais violento no vinil, não importa qual toca discos você tenha, conhecer (se que existe alguém que não conhece esse disco) Abbey Road no vinil é uma experiência única. O CD não empolga do mesmo jeito, a começar pela capa.
























Com as bênçãos da tecnologia de hoje em dia, é possível imaginar como teriam sido as gravações desse disco. O game Rock Band dos Beatles tem o álbum Abbey Road, com clipes que te levam para o estúdio, é possível ver a escada pra sala técnica no canto esquerdo, tudo igual. Mas, hoje sabemos que não foi bem assim, principalmente na época em que eles já não eram tão chegados assim uns dos outros. Uma estrofe no livro do Geoff sobre o medley na página 374 está escrito: “Apesar de todo o tumulto, aquelas eram faixas divertidas de se gravar, e no conjunto ficou excelente. Sentado na sala de controle o Studio Two, comentei com George Martn que o som parecia dos velhos Beatles, com os quatro tocando juntos como a banda de 1963. “Você está certo”, disse George sarcasticamente. “Não dá nem para perceber que um não suporta o outro”.
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