Natal – tempo
de consumismo, falsidade, tapinha nas costas, etc, etc...
Dezembro já
chega e lá se vai mais um ano em que todo mundo trabalhou muito, ou pelo menos
quase todo mundo. Enquanto escrevo esse post, pelo menos nas duas ou três
primeiras linhas já me chegaram uns 4 emails diferentes falando das compras de
natal. Pois bem, esse clima me irrita. Lojas cheias, ruas cheias, trânsito
engarrafado, vaga no shopping então? Melhor deixar o carro na rua. Filas,
intermináveis filas. Pessoas com uma alegria, porque não dizer, até medonha.
Olhos esbugalhados, praticamente vítimas de uma lavagem cerebral. Daí entopem
as ruas, as lojas, os caixas, tudo para o maldito presente de natal. A maldita
listinha, amigo secreto (a pior invenção de todos os tempos) a forma mais falsa
de você presentear ou ser presenteado por aquela pessoa que você mais detesta,
ou por algum “amiguxo” que no dia que você precisar mesmo você verá quão
amiguxo ele é.
Revoltado eu?
Magina! É essa alegria momentânea que me irrita. Se você duvida da minha tese,
repare se no dia 26 de dezembro tudo continua na santa paz do cartão de
crédito, ou da ceia. Ah, “A CEIA DE NATAL”. Aquela comilança, comidas de todos
os tipos, bebidas, família reunida, todos falando alto, crianças correndo. Só
faço uma pergunta: Precisaria ser apenas na noite de natal? Se pegarmos como
real motivo o nascimento de Jesus Cristo, poxa, então a noite de natal seria um
momento para se passar em oração, reflexão ou algo seguindo essa linha de
raciocínio. Temos o ano inteiro para passar com a família TODA reunida, com
pessoas falando alto, correndo, organizar aquele almoço com comidas de todos os
tipos, bebidas, enfim, a minha ideia é essa. Natal virou comércio e faz tempo.
Não passa de uma troca de presentes. Além de comprar presente para todo mundo,
é no natal que muitas pessoas se presenteam a si mesmas. Com a desculpa do
décimo terceiro. Nada contra, só é necessário um pouco de cuidado nessa hora.
Presentear e ser presenteado é ótimo, claro. Mas precisa ser apenas no natal? As
lojas potencializam os preços de suas mercadorias e ainda têm a cara de pau de
colocar na vitrine um banner com a palavra “Liquidação”. Liquidação com o seu
bolso, suas finanças. Slogans com os dizeres como “Compre agora e comece a
pagar em janeiro”, caramba! É justamente em janeiro que as contas estouram.
Como estamos
em época de natal, ENTREVISTAMOS o PAPAI NOEL. Como o blog do Baratta ainda não
dispõe de um estagiário pra mandar carregar tijolo embrulhado de uma seção à
outra, lá fui eu mesmo encontrar o bom velhinho em um resort e fizemos uma
entrevista com ele. Nada de revelador, nada de sensacionalista, mas decidi
postar a entrevista mesmo assim.
Blog do
Baratta: Papai Noel como tem passado?
Papai Noel:
De saco cheio!
Blog do
Baratta: Mas como? Nesse resort, sombra e água fresca, como alguém pode se
sentir de saco cheio?
Papai Noel:
Entenda, eu apareço uma vez por ano. Quando eu apareço todos esperam tudo de
mim. Me pedem emprego, paz, não violência, mais dinheiro, foi se o tempo em que
os pedidos que chegavam até mim era uma bola, uma boneca...
Blog do
Baratta: Entendo, então a sua preocupação é não poder atender a todos os
pedidos em uma noite?
Papai Noel:
Não é questão de demanda nem logística, é questão de o que eu posso ou não dar
de presente. Todos jogam suas vontades nas minhas costas. Ser Papai Noel é a
maior roubada que já existiu. Ainda mais nos dias de hoje.
Blog do
Baratta: Como assim?
Papai Noel:
Foi pro saco a ideia de descer pela lareira na noite de natal, durante a noite
enquanto todos dormem. Por dois motivos: Quantas casas com lareira você já viu?
E outra, entrar na casa das pessoas durante a noite enquanto dormem, tem outro
nome. Ainda haveria o recurso das meias na janela, mas das últimas vezes em que
tive que deixar presente em meia, eram meias que cheiravam chulé dos bravos.
Nos dias de hoje, ao invés de lotar a minha caixa de correspondência, mandam
muito email, SMS, de um tempo pra cá só estou me f...
Blog do
Baratta: Mas você ainda é lembrado...
Papai Noel:
Como o cara do consumismo. O cara que veio para lembrar que Natal é consumo, compras,
cartão de crédito, parcelamento a perder de vista. Tudo que pode acabar de vez
com a paz e o sossego.
Blog do
Baratta: Então o natal...
Papai Noel:
... é uma data momentânea, de uma paz momentânea, de uma alegria momentânea,
dura uma noite só. Até porque não dizer também uma data meio egoísta. Enquanto
as pessoas estão na ceia, com um sorriso amarelado no rosto, fingindo que tudo
ali está perfeito, essas pessoas esquecem que em muitos hospitais tem pessoas
internadas, enfêrmas, quantos moradores de rua estão com fome, quantas pessoas
solitárias não tem com quem comemorar o natal. Apenas uma noite em que você se
desliga do mundo externo? Estar com a família é ótimo, mas que não seja apenas
no natal. No fim de ano quando as promessas ridículas do tipo: Vou parar de
fumar, vou começar a fazer dieta, vou fazer academia... Porque as pessoas não
pensam em como serem melhores como pessoa e como ser humano? Estamos
acostumados a ver atrocidades todos os dias nos telejornais, morte, assalto,
vidas interrompidas, enchentes, como podemos ficar alheios a tudo isso?
Blog do
Baratta: Já pensou em mudar de emprego?
Papai Noel: E
quem iria querer o meu? Apesar de que na época do natal vemos quem nem tudo
está perdido. Costumamos a ver geralmente alguns empresários que se juntam e
fazem o natal de crianças carentes. Para esses eu sim tiro o meu gorro. Esses
são especialíssimos seres humanos que pensam no próximo, que vestem a camisa e
arregaçam as mangas. Comemorar o natal é isso.