Andar de ônibus para muitas pessoas é um transtorno, é
chato, é desagradável... mas por outro lado pode ser até cômico. Crianças então
fazem um estardalhaço ao passar por baixo da roleta e fazem de tudo para ir no “banco
alto”. Uma vez uma queria porque queria
ir no banco alto na companhia do pai, como eu estava sentado no tal “banco alto”,
a criança já foi na janelinha. Passados cinco minutos, ela vira para mim e
dispara: “Você vai descer onde?” Praticamente foi a mesma coisa que: “Dá para você
sair daí logo?”. Hehe, claro, nem
liguei, era uma criança. Como também já vi idoso dizer: “Sai daí que eu quero
sentar!”. Que fique entendido que está no seu direito, lógico, mas falando com
esse carinho todo...
Em São Paulo antigamente a responsável pelo transporte
coletivo era a CMTC: Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo, empresa
que meu avô carinhosamente chamava de Com Merda Também se Corre. Os ônibus tinham
as cores azul e branca. Depois de muito tempo passou a ser vermelho, era como
viver em uma cidade de extrato de tomate, ou para o finado prefeito Jânio
Quadros, dizia: “Magnífico, me sinto em Londres!”. Até andou circulando por aqui
uns ônibus de dois andares, porém não era em todo lugar que tinha, pois viviam
se enroscando nos fios da rede elétrica. Como tudo no Brasil ganha apelido, os ônibus
de dois andares foram apelidados de Fofão.
Bem antigamente, o passageiro subia pela porta de trás e
descia pela porta da frente. Mas geralmente ao parar em um ponto, quando o ônibus
abria a porta de trás para subir mais passageiros, sempre tinha um esperto que
pulava ou descia a passos rápidos para não pagar passagem. Este que vos escreve
só fez isso uma vez. Tá, duas. Mas foi porque eu tinha ido pro centro e gasto
tudo em disco, acabei ficando sem o da condução. Passou o tempo, o sistema
mudou, hoje se sobe pela porta da frente e desce pela porta de trás.
Motorista quando corre é uma maravilha, ao pegar um ônibus com
motorista que “chinela” o acelerador, tome muito cuidado e segure no balaústre:
aqueles ferros que parecem pole dance que tinha na novela das nove. É, esse
mesmo. Ou se estiver sentado/a torço para que não esteja no último banco.
Motorista que corre geralmente passa rápido por lombadas e ao fazer a curva
ajeita os passageiros do fundão.
Em São Paulo pelo menos, criaram o bilhete único. Com R$
3,00 (até dia 23 de maio de 2013 – disseram que vai subir, só não sei quando) o
passageiro pode pegar até 3 ônibus diferentes. Num final de semana, dá pra ir à
casa dos parentes, ver as crianças, filar um almoço e voltar antes do jogo do
Curinthia. O bilhete único substituiu o antigo passe, vale-transporte de
antigamente. Vale ressaltar que na minha época de Office boy, ao receber a
cartela de passes do mês, eu sempre vendia os passes, as banquinhas na cidade
compravam por um valor menor que o do passe, claro, mas pelo menos eu nunca
ficava sem dinheiro. Passes viravam discos, cigarro, ficha de fliperama ou um
hot dog quando a fome apertava.
Em algumas cidades o pessoal reclama que alguns passageiros
escutam música no celular sem fone de ouvido. Isso foi uma coisa que surgiu
depois dos celulares com mp3. Pelo menos nunca vi um idoso com o radinho de
pilha ligado antigamente, além do motorista algumas vezes.
E por falar em celular: ah, a grande coisa do momento! No
celular hoje dá pra levar a vida inteira. Fotos, músicas, agenda, internet
(hoje quando se entra no ônibus é um festival de gente rindo por estar vendo
facebook ou então lendo o blog do Baratta como o leitor, amigo, comentarista e
sócio da casa Robert Moura já fez), o aparelho é tão magnífico que até faz e
recebe ligações. Lá por volta de 1998, ou 1999 algo assim, a telefonia móvel
começaria a se popularizar com o plano pré-pago. Lembro-me de uma vez, numa
época que não era qualquer um que tinha celular, um barulho toca e alguém sacou
o celular do bolso e começou a conversar. Não teve quem não olhou para a
figura, o ônibus inteiro olhou pra pessoa. Uau, ela tinha um celular. Ao passo
que hoje... é difícil um ônibus em que não tenha pelo menos 4 a 5 pessoas
falando no celular ao mesmo tempo. Coisa que interfere na minha leitura, se eu
estiver lendo, tenho que guardar o livro pois não consigo me concentrar. E os
papos sãos os melhores. “É, fulano sai hoje por bom comportamento”, ou então “Tira
a carne da geladeira pra quando eu chegar e põe o lixo”. “Onde eu deixei o relatório?
Tá na segunda gaveta ao lado da calculadora”.
“Não você não sabe. Aí eu liguei pra ele de novo, liguei o dia inteiro,
aí ele mandou mensagem”. Ou então “não, to no ônibus não tenho onde anotar,
peraí: Pão, manteiga, molho de tomate...”. Agora a historieta que fecha com
chave de ouro foi eu atender uma ligação do meu encarregado lá final dos anos
90 quando eu... sim: eu já tinha meu primeiro celular pré pago. O burrão aqui
colocou no viva voz. (não usarei nomes verdadeiros). No viva voz eis que sai: “Alô
Junior, você cagou no banheiro de cima?” “O Fulano (gerente da empresa) entrou
lá e quase morreu, perguntou quem tinha cagado lá!”. Desliguei o telefone, abri
o sorriso pra senhora que estava ao meu lado e disse: “Deve ter sido engano”.