Hoje vou falar de um disco que gosto
muito. Já comentei aqui alguns discos como o do KISS “Creatures of the Night”,
o do Elton John “Caribou”, Elvis Presley “Today”, Julio Iglesias “1100 Bel Air
Place” somente por enquanto, ainda quero comentar mais discos. Bom, no que
posso dizer de algumas postagens sobre discos dos Beatles, algumas eu vinha
escrevendo aqui no computador para um projeto que seria um blog só sobre
Beatles em parceria com os dois amigos, leitores e praticamente sócios aqui do
blog. Como ficaria meio impossível administrar mais um blog, acabei ficando com
os textos meus aqui.
Beatles For Sale
Ficha Técnica
Gravado entre 11 de agosto e 04 de
novembro de 1964.
Lançamento: 04 de dezembro de 1964 (Reino
Unido) pela Parlophone
15 de dezembro de 1964 é
lançado o Beatles 65 pela Capitol nos EUA.
Fotos: Robert Freeman
Texto de Derek Taylor
É o quarto álbum de estúdio dos
Beatles. Foi gravado do dia 11 de agosto até dia 04 de novembro quando foi
finalizado a sua mixagem. As gravações aconteceram em meio a compromissos,
shows, apresentações em TV, prova de volante (Ringo estava tirando carta de
motorista nessa época), os 25 dias da primeira tour pelos EUA, ou seja,
começaram a gravar no dia 11 e no dia 16 já estavam on the Road, ou melhor, on
the air, rumo aos Estados Unidos. Com a agenda cheia, indo seguidas vezes ao
estúdio, não é a toa que na capa eles estão mais sérios, ou como um amigo disse
semana passada no Facebook (Beatles cansado), ao contrário do habitual sorriso das capas do
Please Please Me e da capa descontraída do A Hard Day´s Night. Aliás, não
querendo colocar mais lenha na fogueira Beatles X Stones, não há o que negar
que a capa do Between The Butons de 1967 dos Stones lembra um pouco a capa do
For Sale.
O planeta Terra ainda não tinha se
recomposto direito do mega sucesso de filme e trilha sonora do A Hard Day´s
Night e os fãs já foram mais uma vez presenteados com essa obra prima de disco.
Vibrante, empolgante, layout de capa de álbum, até então só tinham trabalhado
com layout de capa simples, texto de Derek Taylor, fotos, ficha técnica, quem
produziu, claro, George Martin, em cada faixa contém informações de quem canta,
quem aparece ocasionalmente, isso sim é um DISCO de sucesso.
Antigos covers que eles costumavam
tocar no Cavern e em Hamburgo. Ou seja, eles tinham voltado a primeira fórmula
de fazer alguns covers. O disco sairia a tempo de pegar o mercado do natal. Das
sessões de gravação ainda fizeram parte I Feel Fine, a qual no take 6 foi
gravada só instrumental, She´s a Woman, as duas últimas lançadas em
compacto/single e a canção Leave My Kitten Alone que só sairia oficialmente no
Anthology.
A relação de faixas abaixo é transcrita
do LP original. Note como há o cuidado nas informações de qual integrante canta
cada música.
Lado A
1.
No
Reply (Lennon – McCartney)
Voz
dobrada de John e ocasionalmente Paul. George faz côro com os dois.
2. I´m
a Loser (Lennon – McCartney)
Inicialmente
John e pequenas passagens de John e Paul.
3. Baby´s
in Black (Lennon – McCartney)
John e Paul
4. Rock
n Roll Music (Berry)
John
5. I´ll
Follow The Sun (Lennon – McCartney)
Paul,
voz dobrada em alguns trechos.
6. Mr.
Moonlight (Johnson)
John
7. Kansas
City (Leiber – Stoller)
Paul
Lado
B
1. Eight
Day´s a Week (Lennon – McCartney)
John
e Paul. George aparece ocasionalmente.
2. Words
of Love (Holly)
John e Paul
3. Honey
Don´t (Perkins)
Ringo canta
4. Every
Little Thing (Lennon – McCartney)
John e Paul.
5. I
Don´t Want To Spoil The Party (Lennon – McCartney)
John e Paul
6. What
You´re Doing (Lennon – McCartney)
Paul
7. Everybody´s
Trying To Be My Baby (Perkins)
George canta.
No
Reply (Lennon – McCartney)
Fortíssima canção que abre o segundo
disco de 1964. Os violões Gibson, o piano, tudo está em perfeita sincronia. A
voz dobrada seria a técnica chamada overdub, onde John canta consigo mesmo,
fantástica canção que poderia ser um single também.
I´m
a Loser (Lennon – McCartney)
John já dá indicios que brevemente
intensificaria em escrever temas pessoais. Nesta já nota uma certa influencia
Dylanesca. A harmônica tocada por John apareceria a partir do take 5
Baby´s
in Black (Lennon – McCartney)
A introdução desta canção é feita por
uma nota na guitarra mais parecida com a técnica trêmolo. Mais ou menos como
havia sido em I Wanna Be Your Man. Importante dizer, que os Beatles
contantemente inovavam em seus trabalhos, independentemente de ser uma canção
própria ou cover. O estilo dessa música é um pouco semelhante a uma valsa. No
show do Shea Stadium na hora do solo, se vê claramente Paul com seu baixo
Hofner simulando uma dança com John.
Rock
n Roll Music (Berry)
O grande Chuck Berry é revisitado
nessa versão empolgante dos Beatles com vocal estremecedor de John. Aliás, os
dois tocaram juntos no programa Mike Douglas em 1972. A sua última visita ao
Brasil foi em 2009. O bom e velho Chuck está hoje com 86 anos. É autor de
várias canções entre elas Maybellene, Memphis Tennesse, Roll Over Beethoven
(gravada pelos Beatles no disco With The Beatles).
I´ll
Follow The Sun (Lennon – McCartney)
Música de Paul, mas creditada a dupla
Lennon – McCartney. Após a primeira visita aos EUA, Ringo falou sobre o sol,
como se eles só tivessem conhecido o sol em Miami.
Mr. Moonlight (Johnson)
A única coisa escrita que achei sobre
o Roy Lee Johnson está no Wikipédia. Nasceu em 31 de dezembro de 1938 em
Georgia. Seu sucesso veio após esta gravação dos Beatles. Gravou alguns singles
entre 1970 e 1980. When a Guitar Plays
the Blues, é um disco de 2003. Facilmente achado por aí.
Lennon berra o título da música a
plenos pulmões, o primeiro take dela ficaria conhecido apenas no Anthology ou
através de discos piratas. O ritmo da música passa a sensação de música
havaiana, com direito a vista panorâmica, coqueiros de suculentas nativas
dançando hula hula. O solo seria de guitarra, mas no caso da versão oficial do
disco o solo foi executado com um órgão no estilão Jovem Guarda, estilo
Wanderley (tecladista de Roberto Carlos).
Kansas
City (Leiber – Stoller)
Esta é apenas uma das pérolas da dupla
dinâmica do rock mundial. Jerry Leiber e Mike Stoller, a dupla de compositores
americanos responsáveis pelas músicas que muitos artistas e bandas gravaram.
Responsáveis pelos grandes rocks da História como Hound Dog, Jailhouse Rock,
pérolas gravadas por Elvis Presley, Stand By Me, Young Blood (que saiu no disco
The Beatles Live at BBC), On Broadway gravada por George Benson Jerry Leiber
faleceu em 22 de agosto de 2011, Mike Stoller está por aí. Os vocais aqui ficam
por conta de Paul McCartney. Na realidade Hey Hey Hey Hey é uma outra canção de
Little Richard, portanto a versão do disco é a junção de duas.
No meu disco pelo menos, na capa
interna há um erro de grafia onde o nome de Leiber vem escrito como Liebe.
Eight
Day´s a Week (Lennon – McCartney)
O lado B abre com a poderosíssima
Eight Day´s a Week. Embora já existisse em discos piratas, as versões
apresentadas no Anthology mostra o poder dos Beatles em montar a música,
introdução, solo e tudo mais. Na realidade em discos piratas, quando se escuta
o operador falar Take 1 e a banda já sai tocando, na verdade significa que a
música foi ensaiada, pelo menos para a banda conhecer.
Words
of Love (Holly)
Buddy Holly é um herói, um mártir do
rock n roll. Charles Hardin Holley teve sua carreira e futuro promissor
interrompidos pelo acidente de avião, o qual também tinha como passageiro o
Richie Valens. Isso também aconteceu com os Mamonas Assassinas em 1995. Mas a
tragédia com Holly inspirou uma canção de Don McLean, American Pie, entre seus
versos está “o dia que a música morreu”. Paul comprou o catálogo da editora que
detém a obra do cantor. Words of Love tem o recurso das palmas, o solo de
guitarra está impecável.
Honey Don´t (Perkins)
Mais um hit maker, o verdadeiro
compostitor de Blue Suede Shoes, sucesso de Elvis Presley. Aqui Ringo é o
vocalista. A canção é a última canção gravada com Ringo nos vocais com
participação especial de suas amígdalas. Ele tinha sido internado em junho e
foi substituído por Jimmy Nicol, o homem que teve por 12 dias o (mundo aos seus
pés). Ringo foi operado no dia 02 de dezembro e o disco foi lançado no dia 04
de dezembro. Os cinco takes foram gravados no dia 26 de outubro.
Every Little Thing (Lennon –
McCartney)
Uma canção da dupla Lennon e McCartney
que foge um pouco da levada estilo She Loves You, I Wanna Hold Your Hand, A
Hard Day´s Night que os Beatles estavam acostumados. Nota se nesse disco uma
mudança, que seria comprovada dois discos mais tarde, no Rubber Soul.
I
Don´t Want To Spoil The Party (Lennon – McCartney)
Um country na carreira dos Beatles. Ringo
é um grande amante do country. Assim como Paul é vidrado em músicas dos anos
20. George não tinha pegado a febre da Índia e John era rock n roll, mas essa
música é de John.
What
You´re Doing (Lennon – McCartney)
O primeiro take da canção nos dá uma
ideia de como a música era ensaiada para depois ser lapidada ali, no estúdio.
Note que mesmo tendo consquistado o mercado norte americano, alavancar as
vendas da EMI, eles ainda gravavam na Parlophone, um selo que era o selo dos
“literalmente discos de piada”, igual como os do Ary Toledo entre outros. Será
que pertencer a um selo melhor, podiam usar e abusar do tempo de estúdio que
bem entendessem? Fica a pergunta. Pois, se pensarmos mais adiante, Abbey Road
foi o berço deles. A evolução do Please Please Me até For Sale já é sentida.
Tente o seguinte, apresente algumas faixas do Please Please Me e algumas do For
Sale a (embora eu ache que não exista) alguma pessoa que nunca ouviu Beatles.
Everybody´s
Trying To Be My Baby (Perkins)
George é o vocalista nessa segunda
canção de Carl Perkins do disco. As apresentações dessa canção ao vivo realmente
eletrizava o público. George é o herói que canta e faz os solos encorpando a
música. E a cada apresentação dela, George se soltava cada vez mais.
Considerações Finais
O For Sale é diferente dos três
primeiros discos que os Beatles já haviam feito. A transição do rock mais
agitado para canções como I´ll Follow The Sun, Eight Days A Week, canção quase
na mesma linha de Things We Said Today, uma levada mais leve porém com a
mensagem de sempre, refletem a transição da banda que usaria de todo seu tempo
precioso em Abbey Road para lapidar as músicas, pensarem em arranjos, eles
estavam mudando e o mundo nem sonhava com isso. Pegando emprestado uma suposta
frase de Lennon no filme “Two of Us”: O mundo ainda estava cantarolando A Hard Day´s Night. A Beatlemania estava consolidada,
mas os voos daqui pra frente seriam cada vez mais altos.
“John Lennon: Para onde vamos rapazes?
Paul, Ringo e George: Para o topo
Johnny!!!
John Lennon: E onde fica isso?
Paul, Ringo e George: Encimíssima de
tudíssimo.”
Diálogo retirado do filme Imagine de
1988.