NO DISC, NO FILMS

O segmento deste blog não é discos e filmes para baixar, embora eu farei comentários sobre discos e filmes que eu gosto e outros que eu não gosto mas acabei assistindo e extraindo algo de legal. Minha opinião pode não interessar para ninguém, mas... pensando bem, tem tanta gente por aí opina e escreve... sou apenas mais um. Apenas um aviso, meus comentários as vezes são corrosivos. Dizem na minha família que eu já nasci rabugento.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Pot Luck With Elvis (1962)





Elvis Presley: Pot Luck With Elvis- 1962!!!!

Mais uma vez o blog do Baratta recebe um texto do leitor e amigo Daniel Tessari. Dessa vez o álbum Pot Luck With Elvis. 

Pot Luck With Elvis, foi lançado originalmente nos Estados Unidos, em junho de 1962, como de costume era o álbum anual de Presley, que não tinha relação com sua carreira no cinema, e apesar da qualidade ele foi considerado um fracasso comercial na época, chegou ao número 4 no  TOP 200 da Billboard, e vendeu cerca de 300.000 cópias, duas vezes menos que a trilha de Girls Girls Girls, e de certa forma decretou por um longo período até 1967, com o álbum How Great Thou Art, de que todos os seus álbuns seriam de trilhas sonoras de seus filmes.

Pot Luck inicia com Kiss Me Quick (Pomus/Schumann), canção gravada em Nashville em junho de 1961, esta é uma canção que fez muito sucesso no Brasil e com certeza é uma das mais emblemáticas dele por aqui, é uma canção com um ritmo curioso, meio mediterrâneo, misturado com o rock dançante típico da época, destaque para os arranjos diferenciados especialmente pelo violão tocado em tremolo, técnica típica das canções napolitanas, e das variações de tempo e logicamente pelo vocal apurado de Presley. 

Dando sequencia chegamos a bela Just For Ol’ Time Sake (Tepper/Bennet), esta foi registrada pelo rei em março de 1962 também em Nashville, é uma bela balada com a marca da época de sua gravação, vibrafones, sinos, e a voz de veludo de Elvis embalam, os corações apaixonados nesta pintura de canção. 

Gonna Get Back Home Somehow (Pomus/Schumann), gravada em Nashville em Março de 1962, esta é um belo rock, da dupla de compositores, que na época dominavam o catálogo de Presley, a dupla forma uma alternativa, em relação a Leiber/Stoller, que eram nos anos 50 os principais compositores do rei, mas não contavam com a simpatia do Col. Tom Parker, de qualquer forma esta canção é muito interessante, com duas variações de tempo e ritmo, 3 guitarras  atuando em conjunto e um belo duelo vocal entre Elvis e os Jordanaires, com certeza, uma grande canção!!

(Such An) Easy Question (Scott/Blacwell), esta sem dúvida alguma é uma beleza de pop típico da época, facilitado pelo belo arranjo, e pelo clima sexy que Elvis e os Jordanaires criaram, com certeza esta se destaca no disco, registrada em março de 1962 em Nashville. 

Steppin’ Out Of Line (Wise/Weisman/Fuller), esta foi lançada aqui, mas foi gravada em março de 1961 na Radio Records em Hollywood, com a intenção de ser usada na trilha de Blue Hawaii, mas acabou por sendo arquivada e usada aqui, uma letra boba beirando o infantil, mas com um ótimo ritmo e um grande solo de sax! 

I’m Yours ( Robertson/Blair), esta foi registrada em Nashville em junho de 1961, é uma bela canção com um arranjo que beira o gospel, apesar de ser uma letra secular, destaque para Elvis harmonizando com si próprio nos vocais e pela parte declamada em que Presley mostra uma vez mais, por que é o rei. 

Something Blue (Evans/Byron), esta é um dos mais belos e poéticos momentos do rei em estúdio, gravada em março de 1962, Nashville, com um arranjo primoroso, com guitarra e sax lamentando junto com o vocal aveludado do rei, que canta uma letra que fala de um casamento desfeito, existe um take em que a guitarra rítmica faz a introdução com a marcha nupcial, ideia que infelizmente foi abandonada nos takes seguintes, sem dúvidas um momento inigualável. 

Suspicion(Pomus/Schumann), esta na opinião deste que vos escreve é a melhor do disco, perfeita e atemporal, com uma letra que fala de forma angustiante de um homem atormentado por suas inseguranças frente a um amor intenso, e com um arranjo único com harpas e vibrafones, além do vocal poderoso de Presley, temos aqui algo maravilhoso, gravada em Nashville em março de 1962. Esta canção foi grande sucesso em 1964, na voz de Terry Stanford, que gravou uma versão inferior a do rei, mas que foi lançada com single, só então a RCA lançou ela em single com Kiss Me Quick, mas o resultado comercial foi bem abaixo do esperado, já que o single saiu em 1964.

I Feel That I’ve Known You Forever(Pomus/Jeffreys), Pomus sem seu parceiro habitual Schumann, bem esta é uma bela canção com um arranjo primoroso, mais uma vez temos sinos, vibrafones, típicos desta época de Presley, aliados ao vocal sempre incrível do mesmo,março de 1962 em Nashiville, belo momento. 

Night Rider(Pomus/Schumann), mais uma da dupla dinâmica Pomus/Schumann, bem esta tem uma história interessante a demo que chegou até o rei em outubro de 1961, foi produzida por Phill Spector, Elvis a gravou em Nashville nesta época. Na sessão seguinte em Março Elvis tentou regravar ela, mas não ficou satisfeito e a versão de outubro de 1961 foi a lançada, bem se trata de um rock típico da época dançante e leve, e com um arranjo bem interessante, onde piano e guitarra principal, fazem um belo duelo.

Fountain Of Love(Giant/Lewis), esta tem um arranjo hispânico, com violões flamencos em meio a maracás, curioso que com certeza Elvis apreciava este tipo de canção uma vez que quando ela foi gravada em março de 1962, as canções nada tinham a ver com filmes eram livres de contratos cinematográficos e mesmo assim o rei insistiu em um belo arranjo bem diferente de rock. 

That’s Someone You Never Forget( Presley/West) Presley deu o título e seu amigo e guarda costas Red West completou a letra, reza a lenda que Elvis estava pensando em sua mãe quando deu o título a canção, de qualquer forma ela foi gravada em junho de 1961 em Nashiville e tem um arranjo etéreo, muito belo, com um teclado no melhor estilo The Doors, e um belo vocal é uma canção contemplativa!!!

Pot Luck definitivamente é um dos melhores trabalhos de Elvis Presley, e traça um belo panorama de como era o seu trabalho nos idos de 1961-1962, com certeza uma bela experiência ouvir este disco!!

Texto de Daniel Tessari

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Elvis at Stax - (Resenha de disco)

O lançamento mais aguardado de Elvis chega às lojas com força total. Elvis at Stax. Isso, Stax studios. Convidei dois grandes amigos lá das bandas do facebook para comentar esse álbum triplo que acaba de sair. 
O texto a seguir está assinado por Daniel Tessari (a quem eu chamo de Tessaripédia) e Oscar Neto (a quem chamo de grande chefe da cambada elvística facebookeana). 

Aumenta que isso é rock n roll. 


 
Análise: Elvis At Stax – Deluxe Edition
Um lançamento altamente recomendado, cobrindo importante momento da carreira de Presley, sua incursão, em 1973, ao não menos lendário estúdio Stax, reduto da Black musica de Memphis, epicentro dos denominados Southern soul e Memphis soul e responsável também por várias das peças mais importantes de gospel, funk, jazz e blues da história musical americana. Com um conteúdo, arte gráfica e som primorosos, Elvis at Stax nos brinda um Elvis ainda eclético (como sempre), com sensível redução do enfoque country típico deste período de sua carreira e sensível entrega à energia, estímulos e ao som negro ecoantes das paredes do Stax.
Dando sequência ao formato bem sucedido formulado para a cobertura de suas apresentações na Big Apple, o emblemático Prince For Another Planet, o produto entregue desta vez pela Sony é igualmente digno da reserva de espaço especial na prateleira de qualquer fã ou apreciador, não só da obra de Elvis, mas também  para os amantes do som sulista e da música em geral. Trazendo todos os másteres produzidos e lançados esparsamente em 3 álbuns e compactos, bem como uma mostra absolutamente interessante (e em som remixado, primoroso!) de outtakes das canções - algo como um ‘making of’ das sessões - , este se torna um lançamento obrigatório.
Era o ano de 1973, Elvis acabara de ser remetido ao Céu de seu Retorno às apresentação ao vivo, em 1968, no qual abandonou definitivamente a carreira cinematográfica, lançado em seguida ao Inferno Psicológico de ser abandonado pela  esposa, retomado ao Paraíso do Havaí com a transmissão extremamente bem sucedida de um concerto seu via satélite e agora amargava as dores dantescas do purgatório de processo de divórcio. Como resultado desta catarse artístico-pessoal, o anjo/demônio empresário de Elvis (Coronel Tom Parker) conseguira um novo contrato junto à gravadora, rivalizando com aquela que se consideraria como a maior transação comercial da história da música, em 1955, tendo como protagonista o próprio Elvis, a Sun e a RCA Records. Desta feita, Elvis cederia os direitos de todas as canções gravadas até então em troca de substancial influxo de dinheiro, algo muito bem vindo em um contexto em que Elvis buscava solucionar o impasse do fim de seu casamento, os custos legais, a divisão de patrimônio, etc. Neste instante uma nova relação com o selo se estabelecia e, em razão disto, ansiosa por rápida obtenção de retorno, a presidência da RCA, em atitude incomum junto ao cantor, lhe solicita a produção de novas faixas. Diante de um Elvis avolumado de tarefas, tournês, audiências judiciais e questões relacionadas ao divórcio, a solução foi o agendamento das sessões necessárias ali ao lado, no Stax Studios, reduto da Black Music, a poucos minutos de Graceland, com todos os contratempos técnicos (e até pessoais, como o roubo do microfone preferido de Presley) que pudessem ocorrer – e ai se inicia a viagem coberta por este projeto.
Junto a um livreto muito bem confeccionado e ao longo de 3 cds, muito bem divididos, temos bem documentada esse evento histórico, a começar pelo alinhamento junto à guia da calçada estúdio do  majestoso Pearl White Stutz Blackhawk (dirigido pelo próprio Elvis!), a primeira noite improdutiva, com um Elvis ainda não focado  buscando ambientação, os problemas sonoros diagnosticados e busca por soluções técnicas, a presença da filha e namoradas do cantor (o clima intimista e a proximidade de Graceland permitiria todo uma série de liberdades e um afluxo enorme de amigos ‘seguranças’, ansiosos por ver Elvis gravar!), e até o roubo de seu microfone preferido, que chegou a encerrar a sessão em uma das noites. Tudo isto temos aqui documentado em texto e áudio!      
Em um primeiro momento do produto, temos amostra de outtakes das canções R&B e Country produzidas (para mim a melhor sequência do lançamento, pura dinamite!), cobrindo todo o cd 1; na sequência, inaugurando o disco 2, o selo organizou uma seleta de outtakes das canções pop que emergiram ao longo dessas 12 noites de gravação nos meses de julho e dezembro de 1973. Até aqui (e em todo o lançamento) não encontramos nenhuma faixa inédita, apesar da raridade ao fã menos ‘hard’ dos momentos traduzidos nestes outtakes. Destaca-se entretanto muito o aspecto sonoro destes takes, vez que, especialmente para este lançamento, não apenas se produziu a remasterização, mas também se remixou  completamente estas tomadas alternativas, justificando, per si todo o produto. Tendo isto em vista, até se colocou no mercado, juntamente com esta versão Deluxe, uma versão mais ‘enxuta’, consistindo em único cd com o melhor destes outtakes.
For fim, como segunda parte do produto, consistindo na seleção de todos os másteres legados por esta estada no Stax, temos igualmente elevada qualidade sonora, com todos os fonogramas remasterizados, entretanto sem a remixagem radical verificada nos outtakes – um tratamento mais conservador com o som que se tornou clássico, digamos, vez que são esses os cortes/versões oficiais das canções. Mesmo assim o som é melhor que o de qualquer outro cd que você possa já ter adquirido e com um discreto acréscimo de eco no canal da voz de Elvis, um discretíssimo detalhe que veio bem a calhar - mas ainda sim preferia que também aqui tivéssemos procedido à uma remixagem a partir do zero, questão de gosto.



OS OUTTAKES:
O trabalho de remixagem se demonstrou um verdadeiro gol de placa! Desta vez, no geral, os instrumentos e as vozes (inclusive de fundo, os backing vocals) todos se fazem audíveis, trazem uma nova equalização que transmitem maior harmonia e equalização. A impressão que dá é a de que cada canal foi tratado com acurado cuidado pelos engenheiros; o som é elevado e mais aberto, amplificado que nos lançamentos feitos pela FTD. Alguns diálogos entre as faixas são inéditos, trazem um Elvis brincando muito e se divertindo antes de iniciar as tentativas de registro, como na tomada 1 de 'I Got A Feelin' In My Body', na 8ª de 'Good Times Charlie Got The Blues' e 8ª de 'She Wears My Ring'.
Como exemplo de melhor sensitibilidade dos instrumentos ou vocais podemos citar o orgão nos takes 2 de Mr Songman, e 1 de If That Isn't Love, a clareza geral de todo o conjunto no take respresentante de Girl Of Mine. Já o take 5 Promised aparenta até ser uma tomada inédita (atente-se ao eco), tal a mudança promovida, o mesmo se dando com a 1ª tomada de I Got A Feelin' In My Body, que inaugura o lançamento de forma interessante, com o som das fitas começando a rodar para o registro dos trabalhos, fazendo-nos sentir ali presentes, aguardando pelo que poderia sair produzido dessas sessões, o que, excetuando uma ou outra canção de menor expressividade, foi um verdadeiro estouro. Um bom momento na carreira de Elvis – e tudo gravado ali, a alguns metros de Graceland!
Ademais, a outra tomada alternativa de I Got A Feelin' contida neste lançamento (take 4) apresenta excelente exemplo da revalorização dos vocais de fundo, evidenciando o fabuloso trabalho feito pelo coro feminino e grupos Voice e Stamps, com destaque para o sempre empolgante baixo de J.D Sumner. 
Por fim, devemos ainda mencionar a beleza de uma faixa completa de ensaio, (apesar dar brincadeira e palavrões do Elvis humano), contida ainda na sequência dos outtakes que poderia inclusive ter dado origem a um maravilhoso máster, se Elvis tivesse a levado adiante: It's Different Now.  Infelizmente, por algum motivo ele a abandonou. Entretanto, nela podemos ver a qualidade dos músicos, a beleza dos vocais de fundo, capacidade de improvisação e adequação da banda à uma canção que, naquele instante, se buscava ‘tirar’ para quem sabe compor as metas das sessões.
Desta sessões, tão desejadas pela gravadora após o sucesso estrondoso da trilha do especial realizado no Havaí, se extraiu material suficiente para 3 álbuns: Raised On Rock (outubro de 1973), Good Times (março de 1974) e Promised Land  (janeiro de 1975), além de cinco singles (compactos simples), contrariando em parte a orientação da gravadora de produzir material para um único álbum pop, dois compactos e um disco religioso: apesar das limitações técnicas iniciais, as expectativas foram superadas.

            OS MASTERS:

Analisemos na sequência cada uma dessas canções, a começar pelas versões oficiais da sessão de julho, compiladas na segunda metade do segundo disco:
Raised On Rock, é uma canção potente, que tem letra incrível de Mark James, fazendo todo um balanço das influencias que ajudaram Elvis a moldar seu som. Tem um andamento diferenciado, com duas baterias, além de duas guitarras trabalhando com timbres diferentes e, como a cereja do bolo, somos regalados com uma harmonia bastante original, destacando-se o arranjo soprano Kate Westmoreland na parte final da canção, onde apenas ela, o piano e Elvis aparecem quebrando o ritmo para uma volta ainda mais poderosa ao refrão.

For Ol’ Time Sake, lado B do single Raised On Rock, é uma balada demais sensível de Tony Joe White, das melhores da carreira de Elvis, inteligente, com um arranjo sóbrio em cordas e metais, se destacando pela sinceridade com que o inérprete canta as palavras que traduzem os momentos de reflexão de alguém que está terminando um relacionamento. Belos solos de violões e arranjos discretos de órgão dão ainda o tom desta bela icanção. Compôs sub-título do álbum Raised On rock.

I’ve Got A Thing About You Baby, outra canção do Tony Joe White, onde novamente temos Elvis em seu melhor, levando um ritmo interessante, beirando a Black music e flertando discretamente com country. No take contido no CD 1 é possível se sentir uma batida bem mais country do que nesta  máster, marcada por um arranjo ótimo e vocais apurados. Um momento admirável que a fez digna de ser lançada tanto em single, com no álbum Good Times. Uma das melhores canções aqui contidas.

Take Good Care Of Her não é do tipo de canção que particularmente lhe faça se tornar muito fã, vez que se trata de um momento que diz mais respeito ao turbilhão emocional que Elvis vivenciava que ao ‘feeling’ do ouvinte.  Apresenta um arranjo que beira o gospel e uma letra que retrara alguém conformado com a garota que se foi: uma combinação um pouco bizarra, mas que em todo caso pode-se dizer que funcionou. Foi lançada em single com I’ ve Got  A Thing About You Baby e no álbum Good Times.

If  You Don’ t Comeback: reencontro de Elvis com os compositores Jerry Leiber e Mike Stoller, que não lhe escreviam material de forma direta desde 1962. Esta certamente é a melhor canção Black registrada nos vocais de Elvis! Uma vez estando na Meca da Black Music, no Stax, sem duvidas não poderia faltar uma boa canção ao seu estilo, com um linha de baixo que não segue a bateria - coisa rara em termos de música;  uma guitarra com pedal wha-wha,  totalmente alucinante, uma letra sinistra e vocais femininos que duelam de forma saudável com um Elvis incorporando Isaac Hayes. O que dizer de toda esta combinação? É simples: uma verdadeira obra prima, que foi lançada em Raised On Rock. Deveria, com muita justiça, ter feito parte de um single.
 
Three Corn Patches: mais uma da ‘re-aparecida’ dupla Leiber/Stoller, desta vez tratando-se de um blues com a cara do Blues de Chicago, mais agitado e menos cadenciado que os blues do delta do Mississipi, com leve flerte com o rock em um show de piano e guitarras, e, novamente belos vocais femininos. Aqui, Elvis Presley faz mais uma vez, uma canção incrível. Lançada em Raised On Rock

Girl Of Mine: apesar de muito popular nos EUA, esta é uma canção menor se comparada às demais produzidas nesta sessão, nela não se sentindo muita inspiração de Elvis em razão de seu cansaço na noite em que a registrou, ou, quem sabe, pelo descontentamento que teve ao ter seu microfone preferido roubado no estúdio, fazendo com que se registrasse apenas esta única faixa naquele dia – coisa rara a quem sempre produzia um hit atrás do outro.  Lançada em Raised On Rock.

Just a Little Bit: canção interessante com ritmo cadenciado e com uma batida sensual, ótimo solo de guitarra e, mais uma vez, belos vocais de fundo. Lançada em Raised On Rock.

Find Out What’s Happenning.  Segue a mesma linha das sessões: bom ritmo leve flerte com Black Music, boas guitarras, bons vocais de Elvis, com influencia de vocal negro. Lançada em Raised On Rock.

Sweet Angeline: esta foi gravada em julho pela banda, mas Elvis colocou os vocais em Setembro, em sua casa em Palm Springs como o recém formado grupo vocal Voice. Uma singela e interessante balada romântica. Um dos pontos mais altos.  Lançada em Raised On Rock.

 

 
O disco 3, por sua vez,  traz todas as masters da sessão de dezembro, de 1973:

Promised Land: um clássico de Chuck Berry, onde Elvis o recria de forma brilhante, com ótimos solos de guitarra do incrível James Burton e um arranjo que evolui ao longo dos takes, de um órgão para um piano típico de rockabilly; ou seja aqui temos Elvis com todo seu talento, fazendo um dos melhores rocks de sua carreira, o que não poderia faltar nestas sessões. Lançada em single e no álbum Promised Land.

It’s Midnight: primeira canção que Elvis grava daquele que vai se tornar em breve seus compositor favorito, Jerry Chestnut de Nashville. Desta vez este a escreveu em parceria com Billy Ed Wheeler. Nesta canção Elvis expressa todo seu sentimento à, agora ex-esposa, Priscilla. Nela verificamos uma estrutura interessante, com versos longos e introspectivos, um refrão mais agressivo, onde Elvis mostra todo seu poderio vocal, além de um arranjo ultra moderno de teclados (cortesia do sueco Pete Hallin), belos vocais masculinos e uma soprano. Lançada em single com Promised Land e também no álbum Promised Land.

If You Talk In Your Sleep: esta é sinistra! Composição do amigo de Elvis, Red West com Johnny Christopher, músico que às vezes tocava no estúdio com Presley nos anos 70. Mais uma vez nos deparamos com um surpreendente arranjo Black, com ótimos metais, vocais femininos sensuais, e, novamente a malandra guitarra de Burton utilizado o pedal wha-wha, fazendo desta um pérola, tudo isto misturado à um sugestiva letra que trás, ao que tudo indica, alguém que anda querendo ser infiel, já foi e não pode revelar este terrível segredo enquanto dorme. Lançada em single, foi o ponto alto da temporada de verão de 1974 em Las Vegas; também aparece no álbum Promised Land.

Help Me: primeira composição que Elvis gravou de Larry Galtin que, junto com seus irmãos, tinha uma banda de respeito em Nashville, chamada The Gatlin Brothers. Esta é uma canção gospel daquelas que Elvis tanto gosta, com um arranjo bem puxado para o country. Reza a lenda que Elvis a gravou de joelhos. Lançada em single com If You Talk In Your Sleep e no album Promised Land.

My Boy: versão de Parce que je t'aime mon enfant, emotiva canção francesa de Claude François. Elvis a adotou na temporada de Vegas em agosto e a levou para o estúdio nesta sessão. É uma faixa que certamente certeza dizia muito a Elvis, principalmente em relação a sua filha Lisa. Um belo momento, que rendeu bom sucesso, particularmente no Brasil. Foi Lançada em single e no álbum Good Times.

Thinking About You: bela canção de amor do compositor Tim Baty, um dos membros do recém criado grupo vocal criado por Elvis, o Voice. É uma típica canção setentista com uma bela melodia letra simpática e Elvis detonando nos vocais. Um dos mais agradáveis momentos no Stax. Lançada em single com My Boy e no álbum Promised Land.

Mr. Songman: esta é uma composição de Donnie Sumner ,membro do Voice e também da nova editora musical do rei. É uma canção verdadeiramente simples, com belos vocais, arranjo sóbrio e com uma atmosfera bem otimista. Um belo momento e excelente e xemplo de que ‘menos pode  ser mais’. Apesar de beleza expressada no take do cd 2, com um Elvis mais ‘só’ na faixa, a master tem seu valor justamente por deixar bem evidenciado o equilíbrio vocal alcançado junto ao conjunto de  vocalistas. Lançada em single como lado B de T-R-O-U-B-L-E em 1975 e no álbum Promised Land

I Got A Feelin In My Body: com este groove Elvis iniciou as sessões de dezembro de 1973. Temos aqui uma ótima letra de Dennis Linde, com temática gospel. Desta vez temos 3 (sim 3 guitarras!!), uma simplesmente acompanhando e as demais duelando no pedal wha-wha, além de um linha de baixo marcante, vocais incríveis, ótimos teclados e um Elvis mais negão do que nunca. Um verdadeiro estouro e destaque entre os destaques!!!Lançada em Good Times

Loving Arms: Composta por Tom Jans, que nos apresenta uma balada romântica, poderosa, com um início bem característico e uma quase que ausência de refrão, muito bem construído por sinal, demonstrando de forma inequívoca o quanto é bem escrita a canção: marca da elegância das sessões de dezembro. Simplesmente uma das gemas mais agradáveis destas sessões. Um som verdadeiramente atemporal. Em um ‘teste cego’ certamente se diria ter sido gravada hoje de manhã. Lançada no álbum Good Times.

Good Time Charlie’s Got The Blues: esta é uma canção que foi o único hit de seu autor, Danny O’Keefe, em 1968. Elvis gravou sua versão com um toque especial, nostálgico e reflexivo. Entretanto, por razões óbvias, ele omitiu o verso que fala de pílulas (presente na versão original de seu autor): ”i take the pills to ease the pain...” Mesmo assim, Elvis, como de costume, se apropria da canção e a torna uma experiência auditiva e sensorial única. Destaque para as duas guitarras, que conversam entre si enquanto o violão serve de base melódica. Certamente um dos maiores momentos de James Burton ao lado de Elvis.  Lançada no álbum Good Times.

You Asked Me To: esta era, na época de sua gravação por Elvis, um country hit do ícone do estilo Outlaw Country, Waylon Jennings. Desta vez muito pouco se mudou, mantendo a base da canção, com ótimos solos de Burton, mostrando que Elvis estava antenado com as canções contemporâneas de sua época. Ótima e animada canção. Lançada em Promised Land.

There’s A Honky Tonk Angel: canção tipicamente country, do jovem compositor de Nashville Troy Seals, que na época se destacava com um dos mais emergentes compositores da capital da Country Music. Esta é uma canção linda, em que Elvis realmente dá tudo de si na interpretação. O cantor Conway Twitty a gravou seis semanas antes de Elvis. Existe a possibilidade Elvis e seu produtor Felton Jarvis a tenham considerado para um single, mas como Twitty já a havia lançado, a idéia teria sido logo abortada, infelizmente. Lançada em Promised land.

Talk About The Good Times: ótimo country-rock do compositor Jerry Reed, o mesmo de Guitar Man e U.S.Male, A Thing Called Love, com um arranjo que destaca os teclados de Hallin e Briggs, uma pitada de vocais Gospel, e um Elvis super animado. Com certeza esta é bem interessante e propicia uma grande audição. Lançada em Good Times.

She Wears My Ring: esta é uma canção do casal numero 1 de compositores de Nashville: Boudleaux e Felice Bryant. Foi gravada muitas vezes e a versão do rei se aproxima da registrada por Ray Price, em 1968 - totalmente acústica e mantendo a peculiar estrutura de acordes do casal. Elvis canta com supremacia sua melodia tortuosa. Entretanto, restou obscura em razão de, apesar de sua singela beleza, se manter não tão evidenciável diante do conjunto de novidades da sessão. Um número bonito e regular. Lançada em Good Times.

Your Love’s Been A Long Time Coming: esta é uma canção de Rory Bourke, que escreveu Patch It Up com Eddie Rabitt para Elvis em 1970. É uma música bem romântica, verdadeira ópera-country, com refrão pegajoso (um pouco repetitivo, talvez). Muito apreciada pelos fãs. Destaque para o delicioso take no cd 2. Lançada em Promised Land

Love Song Of The Year: de Lon Chritian Smith. Esta é mais uma da nova editora musical do rei. Trata-se de uma canção muito bela, com letra pretensiosa e que se garante. Ademais, tem um ritmo inteligente, vocais fantásticos e um Elvis muito inspirado, ou seja, uma obra prima. Lançada em Promised Land.

Spanish Eyes: esta sempre foi uma das favoritas de Elvis em suas sessões caseiras e verdadeira mostra de que Elvis continuava interessado em atingir outros públicos, de outras nacionalidades, em especial a comunidade latina dos EUA. Foi gravada originalmente por Al Martino em 1967, baseada na melodia de Moon Over Naples, de Bert Kaempferts. Aqui se dá um clima mediterrâneo com arranjos acústicos, mas que, ao vivo, tem o verso omitido em relação à esta de estúdio, perdendo o característico clima espanhol, transmutando-se e se aproximando do igualmente saboroso ritmo mariachi mexicano. Grande momento, muito  marcante na discografia. Lançada em Good Times.

If That Isn’t Love: canção gospel de Dottie Rambo. Cantada com supremacia, dotada de um belo arranjo, mas que, apesar de se revelar um boa versão, termina por ser algo pouco deslocado dentro da sessão – talvez como seqüela de idéia abandonada de se produzir um álbum gospel. Lançada em Good Times.

Do produzido em estúdio em 1973, ficaram de fora deste lançamento apenas I Miss You e Are You Sincere, que até englobam o conjunto, mas tecnicamente foram produzidas em sua totalidade não no Stax, mas na casa de Elvis, em Palm Springs, onde a RCA montou seus equipamentos para que o cantor terminasse a gravação de Sweet Angeline (o que felizmente realizou), Color My Rainbow, Good, Bad But Beautiful e The Wonders You Perform, faixas das quais infelizmente só se produziu o instrumental, nos deixando pra sempre sem a inserção dos vocais de Elvis.

Fica claro que estas sessões do Stax mostram um Elvis vocalmente poderoso, com muita inspiração e o balanço final felizmente teve sensível sucesso comercial, com alguns hit singles adentrando o top 20 da Billboard, (My Boy, If You Talk In Your Sleep e Promised land), além de um desempenho bem mais interessante nas country charts, onde Promised land e Good Times chegaram ao topo. 

Talvez uma crítica seja cabível à forma como a RCA promoveu e colocou no mercado este material, dificultando um melhor aproveitamento, uma vez que com canções de tal qualidade em mãos, sem dúvida alguma, poderiam ter composto um álbum duplo, lançado na metade de 1974. A mentalidade da RCA sabotava seus próprios discos: Aloha From Hawaii foi um sucesso incrível, ficou no Top 10 de álbuns por mais de um ano e, neste período, 2 álbuns (Raised on Rock e Good Times) com material do Stax foram lançados, sem antes se esgotar a rentabilidade do disco havaiano, fazendo com que concorressem entre si.  Seria evidente que não alcançariam a devida atenção. Ou, outra possibilidade, como mencionado, poderia ter-se produzido um álbum duplo, o poderia dar mais destaque às sessões como um todo - mas infelizmente isto ocorreu apenas agora.

De qualquer forma este novo lançamento da Legacy Records, nos apresenta  um Elvis em seu auge, eclético e versátil, indo do gospel ao Black, do country ao pop, passando pelo rock, a todo momento imprimindo sua sempre poderosa marca vocal, aliado ao seu time de músicos de primeira, mostrando que 1973 foi um dos anos  mais interessantes de sua carreira.

            Justiça foi feita!! Um lançamento digno de aquisição por todo e qualquer fã!
 

Por Oscar Luciano Gomes Neto e Daniel Tessari.