NO DISC, NO FILMS

O segmento deste blog não é discos e filmes para baixar, embora eu farei comentários sobre discos e filmes que eu gosto e outros que eu não gosto mas acabei assistindo e extraindo algo de legal. Minha opinião pode não interessar para ninguém, mas... pensando bem, tem tanta gente por aí opina e escreve... sou apenas mais um. Apenas um aviso, meus comentários as vezes são corrosivos. Dizem na minha família que eu já nasci rabugento.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Um furacão chamado Janis



Um dia eu estava na casa de um amigo de escola e ele colocou um filme que ele tinha gravado da TV Gazeta em uma fita VHS (siimmm, a TV aberta transmitia coisa boa). Isso foi no início da década de 1990. Era o filme do Festival de Monterey de 1967. O primeiro e grandioso festival que serviu de base pro Woodstock e Ilha de Wight anos depois. Foi o primeiro festival em que se apresentaram nos Estados Unidos o Jimi Hendrix, The Who, Ravi Shankar, Otis Redding  e Janis Joplin com sua banda Big Brother And Holding Company. O festival ocorreu de 16 a 18 de junho de 1967.
Não sei se exatamente nessa ocasião eu ainda não tinha ouvido Janis Joplin, mas com certeza foi a primeira vez que a vi. Sua interpretação de Ball and Chain de deixar todo mundo de boca aberta, inclusive a Mama Cass Elliot, foi um baque e eu passei sim a amar Janis incondicionalmente. Não lembro se até então eu já tinha ouvido o Cheap Thrills, mas com certeza fui atrás de tudo que se referia a Janis. Uma carreira meteórica que se resume em quatro discos de estúdio.




Big Brother And Holding Company – Featuring Janis Joplin – Lançado em Agosto de 1967
O disco de estreia da Big Brother. Impulsionado depois da apresentação no festival de Monterey. Foi lançado pela gravadora Mainstream, não obteve lá muito sucesso mas dá uma ideia do que viria a ser o álbum seguinte. Destaco desse disco as canções “Bye, Bye, Baby”, “Easy Rider”,  “Womens Is Losers” (que retrata a Janis filósofa desde o primeiro disco). No período em que cantou na Big Brother se sentia como parte da banda, sem estrelismo. Ela levava isso à risca. Curiosamente lá fui eu dar uma sondada no disgogs e acabei sabendo que teve lançamento no Brazil em 1972, também deve ser difícil pra porra de achar.



Cheap Thrills – Lançado em Agosto de 1968


O segundo disco é uma pedrada no peito. Aqui temos um grande exemplo de vinil versus cd. Apreciar a arte da capa no vinil em todos os seus detalhes, é bem mais prazeroso que no CD. A capa foi desenhada por Robert Crumb, famoso artista do underground comix. O disco traz os sucessos “Piece Of My Heart”, “Ball And Chain”, “Summertime” que pode ser vista sendo gravada e ouvida pela banda no filme “Janis” de 1974. Cheap Thrills foi o segundo e último álbum com sua primeira banda. 



I Got Dem Ol´Kozmic Blues Again Mama!   com a Kozmic Blues – Lançado em Setembro de 1969

Da mesma forma que Janis ficou grande demais para Port Arthur e para o Big Brother, Janis entrava em estúdio com uma nova banda para gravar seu primeiro disco solo. No filme “Janis: Little Girl Blue” de 2015, na parte que fala da transição do Big Brother para a Kozmic Blues Band, pode-se ver um recorte de jornal onde uma nota dizia que sua nova banda era um lixo. Opinião que eu particularmente não concordo, pois me lembro que fui conhecendo o trabalho de Janis nos anos 90 de acordo com os discos na ordem de lançamento, ouvi o Cheap Thrills que era rock psicodélico puro, porém quando ouvi o Kozmic Blues o som de Janis veio com um suingue excelente. Os metais e a abordagem da banda eram diferentes do Cheap Thrills, não desmerecendo o anterior, mas nesse disco o som está com uma pegada incrível.


“Pearl” com a Full Tilt Boogie Band (disco que foi lançado em 1971, após a sua morte em 04 de outubro de 1970).

O último disco gravado por Janis, com sua terceira banda é um álbum obrigatório para quem aprecia música de verdade. Depois dos três primeiros álbuns com suas primeiras duas bandas, Janis evoluiu de tal forma que o álbum Pearl dá uma ideia do que Janis viria a gravar depois.  Para muitos fãs e críticos, Pearl é o melhor disco gravado por Janis. É o disco mais equilibrado de todos que gravou. Não desmerecendo  os três primeiros, mas Pearl é “O disco”.  “Me And Bobby McGee” com o violão tocado por Janis é o hit número um desse trabalho.  Disco gravado em um mês apenas. A última música gravada, segundo eu li por aí foi “Mercedes Benz” à capella. A música que dá um nó na garganta é “Buried Alive In The Blues”, só instrumental, pois Janis faleceu antes de colocar a voz. Em 2012 foi relançado como Pearl Sessions (que eu já fiz até uma postagem aqui no blog falando dele) que traz os takes que constituíram o álbum mostrando o processo criativo que resultaram nesse grande disco.



Por mais que a carreira discográfica de Janis tenha sido perfeita e brilhante, ainda faltava grandes momentos em disco. Em 1972 era lançado o disco duplo Joplin In Concert com gravações ao vivo de 1968 a 1970.  Quando ouvimos Janis ao vivo, é outra pegada, é outra energia. Seu carisma, presença de palco e comunicação com o público eram acima da média. 


Outro disco que considero obrigatório a todo fã de Janis é o disco duplo da trilha sonora do filme Janis de 1974. O primeiro disco contém gravações ao vivo com a Kozmic Blues em Frankfurt, na Alemanha em 1969, Full Tilt Boogie em Toronto no Canadá em 1970, e algumas gravações retiradas dos álbuns Cheap Thrills, Kozmic Blues e Pearl. Além de entrevistas ao Dick Cavett (1970) e Albert Hall (1969). Ainda um trecho da reunião da High School em Port Arthur. O disco dois leva o título de Early Performances. São as primeiras gravações de Janis de 1963 e 1964 em Austin, Texas e em 1965 com a banda de jazz Dick Oxtot Jazz Band em San Francisco. Esse disco é meio difícil ver por aí em lojas, só tomei conhecimento desse disco porque me emprestaram e foi ficando, ficando...  (importante isso, nunca empreste disco pra mim, beleza?) Não diria que seria furto, roubo ou algo assim, mas é um caso de apropriamento leve, quando não há intenção de magoar. O LP duplo é nacional, mas pesquisando no discogs, foi lançado em muitos países. A edição americana contém um livreto no meio da capa dupla com um documentário fotográfico de 22 fotos da vida e obra de Janis.



O compacto da UESTOP é outro disco que ficou bem conhecido no Brasil. O compacto que hoje está comigo, eu vi na casa da minha tia, que já estava numa fase da vida onde não interessava mais ouvir discos e eu pedi emprestado. Como ela nunca pediu de volta e como eu não consigo imaginar minha tia ouvindo Janis...  mas tenho lembrança da minha vó vendo eu assistir a Janis no Monterey e soltar a pérola: Nossa, como canta feio essa moça!!!

O primeiro filme em que eu conheci Janis foi o Monterey Pop Festival de 1967. No filme Janis aparece duas vezes, a primeira bem no início do filme e a segunda em sua apresentação com a Big Brother cantando a Ball And Chain (que foi editada no filme) anos depois eu consegui o áudio inteiro dessa performance.


O filme Janis de 1974 tem a direção de Howard Alk, com assistência de Albert Grossman (empresário de Janis). O filme tem bastante material do começo da carreira de Janis, tem imagens do Big Brother gravando e ouvindo a Summertime para o disco Cheap Thrills, tem Janis em Woodstock dançando com o saxofonista da Kozmic Blues, além de trechos retirados de shows de Frankfurt e Toronto. Sua entrevista no Dick Cavett, entrevista para Albert Hall, Reunião da escola em Port Arthur, porém o filme foi um pouco criticado por não conter narração.  Eu (na condição de fã) gostei e muito do filme. Segundo eu li por aí foi lançado em DVD em alguns países apenas.



Little Girl Blue de 2015 é um filme dirigido por Amy J. Berg e traça um perfil da vida e obra de Janis. Diferente do filme de 1974, Little Girl Blue é narrado, há depoimentos de Laura Joplin (irmã), Michael Joplin (irmão), amigos de infância, da escola, do primeiro pessoal com quem teve contato em San Francisco, depoimentos emocionados e breve leituras das cartas que Janis se comunicava com a família dizendo como estava em San Francisco, com quem estava morando, seus primeiros passos como cantora, amigos de banda... O filme também fala sem dó, nem piedade do seu envolvimento com drogas e altos e baixos. Quem dá voz a Janis na leitura das cartas é a cantora Cat Power.



Um DVD que eu devo ter achado em alguma banca por aí foi um The Best Of Janis Joplin. Que traz as apresentações e entrevistas no programa do Dick Cavett, legendado ainda. DVD que eu nunca mais vi em lugar algum. O exemplo claro de estar na hora certa, na rua certa, na banca certa e com uns trocos no bolso.


 Outro DVD bacana é o Janis Joplin Live com o Big Brother and The Holding Company. 

Janis Joplin é assim, você ouve um disco e fica com aquela sensação de quero mais. E escuta outro, e outro, e outro. Se assiste a um vídeo, filme, DVD, quer assistir a muitos e muitos mais. Para essa postagem relacionei os DVDs, filmes e discos os quais eu conheço. Com certeza há muitos lançamentos póstumos, mais especificamente na época em que o CD dominava o mercado. Mas acredito que hoje na era do streaming não seja difícil encontrar esses discos. 

Fiquem atentos na próxima postagem onde farei uma postagem apenas com fotos da Janis.