NO DISC, NO FILMS

O segmento deste blog não é discos e filmes para baixar, embora eu farei comentários sobre discos e filmes que eu gosto e outros que eu não gosto mas acabei assistindo e extraindo algo de legal. Minha opinião pode não interessar para ninguém, mas... pensando bem, tem tanta gente por aí opina e escreve... sou apenas mais um. Apenas um aviso, meus comentários as vezes são corrosivos. Dizem na minha família que eu já nasci rabugento.

sábado, 18 de maio de 2019

Nós Vamos Invadir Sua Praia - Ultraje a Rigor (1985)



Eu nasci em 1974 em São Paulo. Meu interesse por disco, música me levaria a querer aprender a tocar algum instrumento. Meu pai me deu um violão, meu tio me deu uma guitarra, mas até aprender mesmo demoraria alguns anos (acordes era uma coisa muito complicada pra mim). Mas com o objetivo de “tocar na missa” fiz algumas poucas aulas e fui lançado no “altar” no melhor estilo “amanhã eu não vou poder ir, está aqui a pasta de cifras”, mais popularmente conhecido como “se vira”! Eu sempre curti ser “rato de ensaio”, na minha rua tinha uma banda que ensaiava, compus até uma letra com uns oito anos e o pessoal da banda pegou o tom, vai saber em que porra de tom que eu cantava e tenho a lembrança de cantar essa música com a banda tocando o meu rock mirim musicado. Não, não tem imagens disso, na época não tinha celular, quem tinha filmadora era rico e isso deve ter sido por volta de 1982, com margem de erro para um ou dois anos a mais.
Assim como eu já falei aqui sobre o meu primeiro disco de rock pesado internacional foi o “Creatures Of The Night” do KISS, https://blogdobaratta.blogspot.com/2012/11/kiss-creatures-of-night.html , o meu primeiro disco de rock nacional foi o “Nós Vamos Invadir Sua Praia” lançado em 13 de Julho de 1985.
A única coisa que eu me lembro é da minha madrinha estar em casa e devia ser meu aniversário, ocasião que ela perguntou o que eu queria ganhar de presente. Eu falei “disco”! Não me lembro do valor nem como escolhi o do Ultraje, mas lembro de que foi em uma loja perto de casa. E a minha saudosa Telefunken Linfomat tocou esse disco a exaustão. Esse é um dos discos até hoje que eu ouço sem pular uma faixa. Eu estava em um período em que tinha acabado de entrar no hoje “6º ano” antiga “5ª série” ou ginásio. Estava em formação e era a primeira vez que fiz a tal 5ª série, tá bom, fiz mais de uma vez, mas não vem ao caso. O impacto desse disco, pelo menos na minha vida, foi tão grande que hoje pesquisando sobre rock nacional, fiquei contente em saber que esse disco que foi tão importante pra mim foi o primeiro disco de rock nacional dos anos 80 que teve uma venda absurda, alavancou de vez o rock nacional e abriu os olhos da mídia da época para as bandas nacionais.
O Ultraje já vinha se destacando com os compactos “Inútil”/”Mim Quer Tocar” e “Eu Me Amo”/”Rebelde Sem Causa”, mas foi com esse LP que as coisas realmente melhoraram para o rock nacional. Irreverência e letras bem sacadas não é uma exclusividade do Ultraje, embora não fosse uma banda somente de rock, o Língua de Trapo já havia lançado o disco Língua de Trapo em 1982 e Como É Bom Ser Punk em março de 1985. Mas “Nós Vamos Invadir Sua Praia” foi até as últimas consequências. A faixa que dá título ao disco era um recado ao cenário  carioca onde muitas bandas vinham se destacando, como Roger disse “as rádios estavam lá, as emissoras de TV estavam lá no Rio de Janeiro”. Isso na mídia, porque casa noturna pra tocar em São Paulo, no começo dos anos 80, era o que não faltava. Aliás, quem teve a sorte de ter seus 18 ou 20 anos na primeira metade dos anos oitenta e fosse músico, se deu bem. O disco foi produzido por Pena Schmidt e Liminha. Foi o primeiro disco de rock nacional a ganhar disco de ouro e platina.

O trecho a seguir é do livro “Músicas, Ídolos e Poder – Do Vinil Ao Download” escrito por André Midani (Executivo da indústria fonográfica) Edição WEB Versão disponível na internet em 2013. Lançado pela editora Nova Fronteira em 2008. O livro estava a disposição no site andremidani.net (site criado pelo próprio André Midani) o site não está mais no ar, mas eu baixei na época.

“Querendo retomar a dianteira sobre nossos concorrentes, ainda no início da década de 1980, chamei o Liminha, que eu acabara de promover a diretor artístico da Warner, e o Pena Schmidt, contratado para a mesma posição em São Paulo, para traçar um plano de ação. Decidimos fazer o que melhor sabíamos: ir para a rua e descobrir novos talentos
aos quais ninguém prestava atenção, e, assim, surpreender e reconquistar um lugar decente no mercado. Eles saíram à luta, visitando os botecos da vida, os bares e os galpões de São Paulo e do Rio. Liminha, por ser um extraordinário músico, e Pena, por ser um “rato da noite”, encontraram rapidamente o que estava diante dos olhos de todos, mas ninguém via: roqueiros de nomes estranhos, como Kid Abelha & os Abóboras Selvagens, Ultraje a Rigor,Titãs do Iê-
Iê, Ira!, Camisa de Vênus, Kid Vinil, e, posteriormente, o Barão Vermelho. Kid Abelha e Lulu Santos foram os primeiros sucessos que deram à companhia uma nova alma e a confiança de haver descoberto artistas para uma nova geração de público jovem.
Eu adorava a esplêndida sátira “A gente somos inútil”, do Ultraje a Rigor, tão adequada na época, e tão adequada ainda hoje, e carregava uma fita cassete com a gravação para todo lugar — a trabalho ou para a casa de amigos. Lembro-me, em particular, de uma noite de aniversário na casa do Thomaz Souto Corrêa, que reunia um ótimo grupo.
Lá estavam Walter Clark e outros que não acharam a menor graça ao ouvir o incrível discurso do Roger, líder da banda. Eu percebia em seus olhares:“Coitado do André, realmente perdeu a cabeça... Dessa vez, ele se fodeu de verdade...” Só o Washington me pediu uma cópia da gravação e a entregou ao radialista Osmar Santos, que dirigia o comício das “Diretas Já” em 1984.
Depois de meses de trabalho frustrante, a música começou a tocar em Porto Alegre. Logo depois, estourou em Curitiba. Nesse ínterim, Osmar Santos fez de “Inútil” a trilha sonora de seu programa de rádio e, um belo dia, entregou a fita nas mãos do Ulysses Guimarães, que, com a sensibilidade estranhamente jovem para um homem de sua idade, entendeu o que pessoas mais sofisticadas não perceberam: a importância do discurso do Roger. Ulysses tocou a fita em plena sessão do Congresso Nacional e fez dela um dos seus mais virulentos discursos contra a apatia dos políticos e do sistema.Afinal, como por milagre, todos entenderam. E a música estourou pelo país inteiro!

Se irreverência e letras bem sacadas não era exclusividade da banda, me atrevo a dizer que o Ultraje foi a primeira banda a dizer tudo que queria em disco. Se por um lado o apresentador Flavio Cavalcanti quebrou o disco que tinha a música “Inútil”, a música acabou se tornando marca registrada do momento Diretas Já. Ulysses Guimarães tocou a fita em uma sessão no Congresso Nacional. “Ciúme” foi cantada por Roberto Carlos em seu especial de natal de 1985 ao lado de Ultraje a Rigor que, por sua vez cantaram “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”.  “Jesse Go” fala das celebridades instantâneas, a música é tão atual que é possível fazer uma conexão com os dias de hoje em que um imbecil qualquer “basta participar de um reality show” e se torna a celebridade do momento, mas que se atrapalha “com a própria glória e some da memória”. Lembro de eu escutar o disco com meus pais em que eles riram na frase “...me dão dinheiro pra gastar com a mulherada” da canção “Rebelde Sem Causa”...  será que eles pensaram que esse era o tipo de música que eu iria escutar dali em diante? “Mary Lou” sempre me chamou atenção porque não é apenas uma música de letra engraçada e de duplo sentido, ela tem o instrumental perfeito, e a produção não esqueceu nada ao criar o clima de faroeste. “Zoraide” fala da namorada grudenta e do cara que “...essa história de uma só, Zoraide tenha dó, eu quero mais é variar”. “Eu Me Amo” fala do amor próprio bem ao estilo Ultraje. “Independente Futebol Clube” foi gravada ao vivo. “Mim Quer Tocar” antes do povo falar “mim adiciona” o Ultraje já previa que a língua portuguesa, principalmente no internetês, seria falado assim. Há também a alfinetada política “Mas mim também quer votar, mim também quer ser bacana”.  Eu acompanhei a carreira do Ultraje até o disco "Por Que Ultraje A Rigor?" de 1990. Por volta de 2009 os vi no Sesc Santo André. A formação atual hoje conta com Roger (guitarra e vocais), Bacalhau (bateria), Mingau (baixo) e Marcos Kleine (guitarras). Hoje em dia o Ultraje está no talk show The Noite com Danilo Gentili no SBT. 


Ficha técnica:

Gravado em Abril de 1985
Lançamento: Julho de 1985

Todas as músicas músicas são de autoria de Roger Moreira, exceto onde indicado.
Lado A
01.   Nós Vamos Invadir Sua Praia
02.   Rebelde Sem Causa
03.   Mim Quer Tocar
04.   Zoraide
05.   Ciúme

Lado B
01.   Inútil
02.   Marylou (Edgard Scandurra/Maurício/Roger Moreira)
03.   Jesse Go (Maurício/Roger Moreira)
04.   Eu Me Amo
05.   Se Você Sabia
06.   Independente Futebol Clube


Na revista Bizz número 03 vinha o Trailer Disc com uma entrevista com o Ultraje. 








                              No Programa Fábrica do Som com Barone na bateria. 

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Antonio Marcos




Das minhas descobertas mais recentes  (de uns dez anos pra cá) como andei postando aqui algumas vezes que depois de certa idade comecei a ouvir com mais atenção nomes como Johnny Mathis e Frank Sinatra, outro artista que comecei a ouvir com mais atenção foi Antonio Marcos Pensamento da Silva. Certa vez, tarde da noite, rádio em volume baixo em casa, eu na cozinha da casa da Mooca conversando com minha mãe, pela hora provavelmente em uma das minhas constantes idas à cozinha para um gole de café, ou jantando (já que meus horários são todos bagunçados) ouvi tocar no rádio a canção “Fim De Tarde” música de Mauro Motta e Robson Jorge, sucesso com Claudia Telles em 1976. Mas a que eu ouvi no rádio tinha uma voz masculina cantando, que para mim parecia muito com a voz e interpretação de Antonio Marcos. Não que eu tenha ouvido pela primeira vez a sua voz nesse dia, já conhecia “O Homem de Nazareth” que foi um dos cantos de uma missa na igreja que toco, conhecia também o arquivo em vídeo do show no bar “Inverno  Verão em 1991” show em que Jessé (outro nome de peso na nossa música) estava na plateia, além dos sucessos “Eu Nunca Mais Vou Deixar Você Tão Só”,  “Como Vai Você” de autoria sua e do seu irmão Mário Marcos, “Aventuras” de sua autoria e gravada por Roberto Carlos no disco de 1987 e “Resumo” de Eunice Barbosa, mãe de Antonio e Mário Marcos. Não me lembro com exatidão que ano foi que ouvi isso, mas foi na época dos downloads e acabei descobrindo que essa música estava em um compacto com a música “Todo Sujo de Baton” do Belchior, o compacto era de 1977 (foi difícil conseguir esse compacto). Antonio Marcos teve uma carreira brilhante de grande sucesso e muitos que o conheceram pessoalmente dizem que era um cara humilde e muito boa praça. Boa parte de sua obra está toda em vinil, nem tudo saiu em CD. Algumas coletâneas como Aplauso, Focus, Maxximum e em Foco foram lançadas, mas em 2015 o Selo Discobertas, em atenção aos 70 anos do cantor (ele nasceu em 08 de Novembro de 1945), produziu dois boxes de CDs: Antonio Marcos Vol. 1 (com os discos de 1967 até 1972) e o Antonio Marcos Vol. 2 (com os discos de 1973 até 1976). Pelo site http://edimilsonmendes.com/ososia2_JOVEM-GUARDA/JG06-AntonioMarcos_DiscosNacionais.htm#COMPACTOS a obra de Antonio Marcos é composta de 20 LPs, 07 deles coletâneas, isso fora os 05 LPs em espanhol, CDs e compactos simples e duplos. Na internet existe um blog o http://antoniomarcospensamento.blogspot.com/. O blog é muito rico em postagens que duraram de 2009 até 2015. Hoje a página https://www.facebook.com/antoniomarcosoffice/ mantém viva a memória de um dos maiores ídolos, compositores, cantores, atores de todos os tempos. Há um site sobre Eunice Barbosa, mãe de Antonio Marcos no endereço https://www.eunicebarbosacompositora.com.br/. No you tube muitos vídeos dele cantando na TV, entrevistas e discos inteiros. Antonio Marcos faleceu em 05 de Abril de 1992 e sua obra jamais poderá ser esquecida.